Novo levantamento do Todos Pela Educação analisa a conclusão de estudantes no Ensino Fundamental e Ensino Médio e mostra ritmo lento de avanços em equidade ao longo da última década
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O Brasil celebra alguns avanços na educação básica, mas carrega uma dívida social histórica que continua a se manifestar com força: a persistente desigualdade racial. Um novo e alarmante estudo do Todos Pela Educação, com base em dados do IBGE, revela que, no ritmo atual de progresso, o país levará mais de 15 anos para que jovens negros (pretos, pardos e indígenas) e jovens brancos e amarelos tenham as mesmas chances de concluir o Ensino Médio.
A taxa de conclusão do ensino médio para jovens de até 19 anos tem avançado no geral, saindo de 54,5% em 2015 para 74,3% em 2025. Contudo, essa melhora não tem sido distribuída de forma equânime. Essa lacuna é um espelho do racismo estrutural que se aprofunda na escola, e os dados são categóricos.
O abismo racial em números (2025)
As taxas de conclusão do ensino médio evidenciam a disparidade racial e socioeconômica, que é mais intensa nessa etapa da educação básica. Em 2025, o abismo entre os grupos é claro:
Apenas 69,5% dos jovens Pretos, Pardos e Indígenas de até 19 anos têm o Ensino Médio completo.
Este índice é significativamente mais alto para jovens brancos e amarelos, chegando a 81,7%.
A diferença de crescimento médio entre os dois grupos, observada na última década, projeta que essa lacuna só seria eliminada em 16 anos
O Peso do Acúmulo de Desvantagens
O estudo reforça que as desigualdades tendem a se acumular. Quando a análise cruza raça, nível socioeconômico e sexo, o resultado é a concentração da vulnerabilidade:
1. Renda: A desigualdade mais brutal
Ao considerar o nível socioeconômico, as diferenças são ainda mais alarmantes. Apenas 60,4% dos jovens na parcela mais pobre concluíram o Ensino Médio até os 19 anos.Essa taxa salta para 94,2% entre os mais ricos.
A análise aponta que, se nada mudar, os jovens mais pobres só terão as mesmas chances de conclusão que os mais ricos daqui a cerca de duas décadas.
2. O perfil de maior vulnerabilidade
O grupo que apresenta as menores taxas de conclusão é o de homens mais pobres, que se autodeclaram pretos, pardos e indígenas.
Em 2025, a taxa de conclusão é de apenas 50,8% para homens pretos, pardos e indígenas no grupo dos 20% mais pobres. Em contraste, a taxa mais alta está entre mulheres brancas e amarelas: no grupo dos 20% mais ricos, chegando a 98,9%.
3. Gênero: homens fora da escola
No recorte por gênero, os homens apresentam uma taxa de conclusão inferior (70,2%) à das mulheres (78,5%). Eles são maioria entre os jovens que abandonaram os estudos:
Para trabalhar: 10,7% dos homens, frente a 3,4% das mulheres.
Por falta de interesse: 9,2% dos homens, contra 5,2% das mulheres.
Apesar dos índices mais altos de conclusão, as mulheres enfrentam obstáculos específicos, como a sobrecarga com o trabalho doméstico e a maternidade precoce, que somam 4,5% dos casos de não conclusão.
É Preciso Acelerar Agora
Os dados são um chamado urgente à ação. Conforme avalia Manoela Miranda, gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, “O Brasil avançou, mas ainda em ritmo insuficiente para garantir o direito à conclusão da Educação Básica a todos”.
O novo Plano Nacional de Educação e a implementação das mudanças do Ensino Médio a partir de 2026 são oportunidades estratégicas para reverter essa lógica. É hora de reafirmar o compromisso do país com políticas que assegurem acesso, permanência, aprendizagem e equidade, para que todos, especialmente os jovens mais vulneráveis e negros, tenham as condições para concluir as etapas da Educação Básica na idade certa.
Estudo na íntegra: https://todospelaeducacao.org.br/wordpress/wp-content/uploads/2025/11/estudo-conclusao-na-educacao-basica-todos-pela-educacao.pdf
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