A história do Rap Nacional ainda tem sua base masculina pautada com frequência e mesmo nos tempos atuais, debater sobre isso é como tocar o dedo na ferida de quem se incomoda. A discussão em si não é apenas sobre machismo, é sobre a falta de espaço, de representatividade, diversidade, dentre tantas outras questões.
É impossível falar de Rap e dissociá-lo como um dos elementos do Hip-Hop. A participação das mulheres não está restrita à música, mas a diversos locais dentro deste movimento, em espaços ocupados com muito esforço.
Hoje, 06 de agosto, foi instituído o “Dia do Rap Nacional”, através da Lei 13.201/2008, de autoria do deputado Geraldo Vinholi, aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e aproveito este espaço para exaltar mulheres que vem fazendo a diferença nos trabalhos que desenvolvem dentro da cena do Rap atualmente.
Uma dessas mulheres é a Assessora de Imprensa e Supervisora de Comunicação do Centro Cultural de São Paulo (CCSP), Nerie Bento, referência no que faz. Por muitos anos integrou a Frente Nacional das Mulheres do Hip-Hop (FNMH), presidida por Lunna Rabetti, e lá percebeu a necessidade de documentar a realidade vivida pelas mulheres.
Nerie dirigiu e roteirizou o documentário “O Protagonismo das Minas: A Importância das Mulheres no Rap de SP”, lançado em outubro de 2019, com o objetivo de torná-lo um registro histórico e destacar mulheres que estão em diversas áreas. Algumas das mulheres citadas e participantes são: Mila Felix, ex produtora do programa Manos e Minas, da TV Cultura. Sharylaine, rapper que criou o primeiro grupo de Rap brasileiro apenas com mulheres e está há 36 anos na cena. Danna Lisboa, primeira MC trans de São Paulo, entre outras. Você pode acompanhar Nerie nas redes sociais, ela dá dicas para artistas independentes, fala sobre construção de projetos culturais, comportamento, política.
Certamente você já ouviu falar de Katú Mirim, multiartista e ativista que ficou conhecida após a publicação de um vídeo contra a utilização da cultura indígena como fantasia. Ainda na adolescência, Katú descobriu que era adotada e que sua família biológica é composta por indígenas e pretos. Na busca por informações sobre sua ancestralidade, descobriu que descendia do povo Boe Bororo.
Suas músicas abordam a resistência do povo indígena e preto, ancestralidade, gênero e diversidade. Ela é uma das criadoras do coletivo Tibira – Indígenas LGBTQ e enquanto artista, obteve alguns marcos em sua carreira. Participou de festivais, de comerciais televisivos e grandes eventos de música e teatro, foi capa da revista ELLE.
Em fevereiro deste ano, criou a TAG #indigenasjobs, com o objetivo de facilitar a vida de contratantes, já que existe um pensamento racista pautado no ilusório fato de “não encontrar indígenas e por isso não os contratar”. Seu último lançamento foi a música “Indigena Futurista”.
https://www.youtube.com/watch?v=R7Lz6L9Nzyc&ab_channel=KatuMirim
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Bianca Manicongo é o nome dela. Bixarte! Se você não a conhece, procure saber! Ela tem apenas 20 anos e é cantora, compositora, poetisa e rapper, é bicampeã estadual do Slam da Paraíba, finalista do Slam Brasil e ganhadora do Festival de Música da Paraíba. Lançou seu primeiro trabalho musical, intitulado “Revolução”, aos 18 anos. Com 19,a mixtape “Faces” e “Faces Remix” e, aos 20 anos, o projeto “A Nova Era”, financiado pela Lei Aldir Blanc.
Bixarte traz as suas vivências para sua arte, utiliza a música para clamar por igualdade e respeito e, de certa forma, reeducar a população através de suas perspectivas. Seu intuito é mostrar ao mundo que mulheres trans e travestis são capazes de produzir trabalhos com excelência, desmistificar todo o preconceito que há contra a população LGBTQIA+, e falar sobre corpos invisibilizados.
Seu último lançamento foi a música “Àrólé”, em referência ao Orixá Oxossi, o grande Odé (caçador). É uma música que passa força e confiança, além de exaltar a ancestralidade africana.
https://www.youtube.com/watch?v=MWZ0nOJWfQk
Minha última indicação para vocês é MC Taya, carioca que ganhou destaque na cena com o lançamento da música “Preta Patrícia”, seu primeiro single, que se tornou um verdadeiro movimento em todo o país. Taya mostrou para as jovens pretas que elas podem e devem se amar, cuidar da mente, do corpo, do cabelo e que está tudo bem serem elas mesmas, independentes, sem medos de julgamentos. A Preta Patrícia é aquela menina que é cria da favela, que sonha com as suas conquistas, sem esquecer de onde saiu e onde quer chegar.
Taya é de Nova Iguaçú (RJ), apaixonada por moda e pela valorização da estética preta, conseguiu acender uma chama de esperança no coração de muitas jovens e se tornou referência. Ela não é uma mulher “padrão” e não se envergonha, é uma mulher real e mostra isso de forma bem espontânea nas redes sociais. Além de MC, é comunicadora e apresenta o Bud Street Style, onde fala de lifestyle, música, esporte, entre outros assuntos. Seu último lançamento foi um feat com Larinhx, na música “De LV & Mini Saia”.
Valorize o trabalho da comunidade preta. Compartilhe, divulgue para amigos, pesquise. Procure se ambientar sobre o seu povo, sobre os artistas, pesquisadores, comunicadores, sobre a sua ancestralidade. Se hoje nós ocupamos alguns espaços, é graças aos que vieram antes de nós e prepararam o caminho. Feliz Dia do Rap Nacional, com muito ainda o que lutar. ♥