Em 21 de março de 1960, cerca de vinte mil manifestantes negros marchavam em um protesto pacifico em Sharpeville na África do Sul. O motivo do protesto era a lei que obrigava negros a apresentarem cartões de identificação, documento que demarcava onde negros poderiam transitar na cidade de Joanesburgo. O protesto, embora pacifico, não foi bem recebido pelas autoridades que em resposta dispararam contra a multidão matando 69 pessoas e deixando outras 180 feridas. O dia ficou conhecido como “Massacre de Sharpeville” e posteriormente eleito pela ONU como dia internacional contra a discriminação racial. Para entender o ocorrido em Sharpeville é necessário entender o contexto histórico no país sul africano que ficou conhecido como apartheid. O efetivo de cerca de 130 homens das forças do estado que vitimaram mais de 200 pessoas entre mortos e feridos, em um contingente de 20 mil, já mostra a desproporção do poder estabelecido naquela época.
Quando falamos de racismo, estamos nos referindo a estruturas de poder que não necessariamente condizem com uma maioria que detém o poder por se constituir como maioria. Em 1902 com fim entre o conflito de ingleses e holandeses pelo controle das minas de ouro e diamante na África do Sul, os vitoriosos ingleses passaram todo o controle politico aos brancos que instituíram em 1910 as primeiras leis de segregação racial. Em 1913 a lei das terras destinou 92,5% de terras aos brancos, minoria na região, e 7,5% aos negros. Já em 1948 o primeiro ministro da África do Sul, Daniel François Malan, instaurou o programa de segregação racial que ficou conhecido como apartheid. O racismo agora era lei e concedia privilégios a minoria branca e marginalizava a maioria negra além de mestiços e asiáticos. O programa previa proibição de casamentos e relações sexuais entre brancos e negros, estipulava áreas onde negros poderiam viver e circular. O passe, que todo cidadão negro devia carregar, continha informações pessoais e onde eles poderiam trafegar. O passe foi o motivo da manifestação que terminou com a morte de 69 pessoas. Posteriormente em 1994 o regime de apartheid cairia sob forte liderança de Nelson Mandela, um dos maiores símbolos da luta contra a discriminação racial.
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É muito comum pessoas brancas, no Brasil, reivindicarem que a invenção “racismo reverso” seja tratada como o crime de racismo porque, segundo elas, racismo é racismo não importando a cor. Obviamente, tal argumento não se funda na realidade uma vez que, como dito anteriormente, racismo se refere as estruturas de poder herdadas de um passado colonial e impostas por brancos europeus que, muitas desses pessoas brancas, tem orgulho de carregar a descendência e o sobrenome. O resultado desta herança colonial reflete nos dias de hoje concedendo privilégios aos seus descendentes e marginalizando negros que, a exemplo do país Africano, são maioria no Brasil. Não existe no Brasil uma estrutura imposta por negros oprimindo brancos e negando a eles direitos básicos. Sobre os apelidos do tipo “leite azedo” e “palmito”, meu amigo, são no máximo brincadeiras de mau gosto. Mais que relembrar a luta heroica do povo sul africano no dia 21 de março, ele também deve não nos deixar esquecer que o racismo ainda segrega e mata negros diariamente no Brasil e no mundo.