Mundo Negro

Desligamento de Manoel Soares da TV Globo nos lembra que a corda sempre arrebenta do lado mais preto

Foto: Mylena Saza/Divulgação

O recente desligamento do apresentador Manoel Soares, dos canais Globo, gerou uma série de protestos e mensagens de apoio pelas redes sociais. Coincidência ou não, o desligamento veio após uma série de situações de atrito com a também apresentadora Patrícia Poeta. Logo, diversas pessoas identificaram uma situação de racismo nas cenas que viralizavam pelas redes.

Devemos lembrar que o racismo se manifesta de diversas formas, e não só na violência explicitada através de palavras injuriosas. Uma das formas de manifestação do racismo é a descrença e descredibilização de pessoas negras em postos de destaque. Ver um corpo negro em um programa de audiência, pode soar estranho para muitas pessoas acostumadas aos ‘Willians Bonners‘ e ‘Fátimas Bernades’. São rostos que passam mais confiança.

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Não sou um grande espectador do programa ‘Encontro’, mas sei bem que nessas situações a corda sempre arrebenta do lado mais preto. Aliás, esta é uma prática muito recorrente nas empresas: em casos de “contenda” entre branco e o negro, demite-se o negro. Há casos de demissão de ambos, vítima e agressor, criando uma ideia de proporcionalidade onde a vítima se iguala ao agressor.

Não sabemos o que aconteceu nos bastidores, mas o que vimos nos holofotes nos permite inferir que a demissão de Manoel possa ter ligação com os episódios envolvendo sua colega de programa. Provavelmente, este caso tenha trazido memórias de pessoas negras que passaram por situação parecida. Sim, a corda sempre irá arrebentar  do lado mais preto, que é o lado mais fraco das relações raciais no trabalho.

Em que pese as várias alegações de que Manoel seria um colega de trabalho difícil de lidar, a mim parece estranho estas supostas revelações só virem à tona depois de seus embates com Patrícia Poeta. Mas devo dizer que não me surpreende, uma vez que estes rótulos grudam mais facilmente em pessoas negras. Funciona como uma boa justificativa para o óbvio: “saiu porque era difícil de trabalhar”. Ainda que aceitemos essa justificativa, diante de tantos globais brancos arrogantes, antipatia passa a ser motivo de demissão só quando é o negro quem a manifesta. Mas talvez seja só mais outra coincidência. 

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