Sônia Maria de Jesus, uma mulher negra de 49 anos, surda e muda, passou mais de 30 anos sendo tratada como escrava na casa do desembargador de SC, Jorge Luiz Borba. Segundo a reportagem do Fantástico no último domingo (11), uma ex-funcionária da casa disse que ela era tratada como “escravinha”.
Sônia começou a morar na casa do desembargador ainda nova, com 12/13 anos e logo cedo começou a viver situações precárias e de escravidão moderna. Ela foi privada do direito de se comunicar e nunca aprendeu Libras, a linguagem brasileira de sinais.
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Três ex-funcionárias foram ouvidas sobre o caso. Segundo o depoimento de uma ex-cuidadora que trabalhou entre 2020 e 2021 na casa, Sônia era tratada como uma “escravinha” e os cachorros eram mais bem tratados do que ela. Ela sempre comia depois dos patrões e não possuía um quarto dentro da casa. A cuidadora também relatou que já precisou dar banho na Sônia por causa de assaduras que ela teve embaixo dos seios por não ter sutiã.
Uma faxineira que trabalhou entre 2015 e 2016 definiu Sônia no depoimento como “Mucama”, termo usado para definir mulheres negras escravizadas responsáveis pelos serviços domésticos antes da abolição.
Já uma ex-diarista, disse que sempre viu Sônia como uma trabalhadora e que os filhos do desembargador tinham tudo e ela não tinha nada.
Três funcionárias que trabalham atualmente na casa disseram em depoimento que ela não era obrigada a fazer os serviços domésticos e tinha um quarto próprio dentro da casa principal.
Na entrevista de Sônia ao Fantástico, acompanhada pela presidente da Associação de Surdos da Grande Florianópolis, o jornalista pergunta se ela tem conhecimento dos seus direitos, mas ela não soube como responder.
No dia 6 de junho, a Policia Federal realizou buscas na casa de Jorge Luiz Borba, a pedido do MPF, após denúncias anônimas de que uma trabalhadora surda e muda estaria trabalhando em condições análogas à escravidão. Na última sexta-feira (09), Sônia foi resgatada e está vivendo em um abrigo para mulheres vítimas de violência e está aprendendo Libras.
Em sua defesa, o desembargador disse que ama Sônia como se fosse sua própria filha e quando ela precisava de cuidados médicos amigos e a própria filha, que é medica, a atendia.
Ao Fantástico, ele disse que já tentou ensinar Libras quatro vezes a Sônia, mas que nenhuma tentativa deu certo. Mas não apresentaram nenhum documento comprovando as aulas. Ela só ganhou CPF há poucos anos atrás, que segundo o desembargador, não fez antes por não achar necessidade.
Em nota, a família Borba negou todas as acusações e disse que “jamais praticaram ou tolerariam que fosse praticada tal conduta deletéria, ainda mais contra quem sempre trataram como membro da família”.
Ainda na nota, anunciaram que vão fazer o pedido de filiação afetiva de Sônia. “Jorge e Ana Cristina ingressarão com pedido judicial para reconhecimento da filiação afetiva da [trabalhadora], garantindo-lhe, inclusive, todos os direitos hereditários.”