Uma jornada de anos em busca de raízes familiares culminou em uma descoberta marcante e um momento de reparação histórica. No sábado, 22 de junho de 2024, em Knightdale, Carolina do Norte, nos Estados Unidos, um cemitério de pessoas negras escravizadas foi oficialmente reconhecido e preservado, marcando uma nova etapa para descendentes como Jill Jackson e outros membros da comunidade local.
O local, situado em uma área antes esquecida atrás de uma piscina comunitária, guarda os restos mortais de 131 pessoas escravizadas na Midway Plantation, uma propriedade controlada pela família Hinton no século XIX. Entre os nomes associados à história da plantação está Selanie Toby, uma mulher africana escravizada que foi cozinheira no local e mãe de Ruffin Hinton, fruto de uma relação forçada com Charles Lewis Hinton, o proprietário. Ruffin é ancestral direto de uma descendente que liderou esforços para preservar o cemitério.
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A pesquisa sobre o passado familiar começou com a análise de documentos históricos e registros genealógicos, que revelaram as origens de Milton Hinton, filho de Ruffin, e sua conexão com a Midway Plantation. O estudo trouxe à tona histórias de resistência e resiliência em meio às condições desumanas enfrentadas pelos escravizados. “É como se algo no universo tivesse mudado”, descreveu a descendente ao descobrir as conexões entre sua família e o local.
A preservação do cemitério ganhou força em 2023, quando Jill Jackson, também descendente da plantação, foi nomeada para o Widewaters Homeowners Association Board. Até então desconhecido por muitos moradores, o cemitério foi identificado em 1995 pelo Escritório de Arqueologia do Estado da Carolina do Norte. A partir da iniciativa de Jackson, a comunidade local limpou o espaço e arrecadou fundos para instalar um marco histórico.
Durante a inauguração, que coincidiu com as celebrações do Juneteenth, membros da comunidade, líderes locais e descendentes reuniram-se para homenagear os que foram enterrados no cemitério. “Eles estiveram aqui, e você nunca poderá apagá-los”, afirmou Jackson em referência ao trabalho de marcar cada sepultura com bandeiras verdes, um ato de reconhecimento e memória.
A história da Midway Plantation reflete tanto os horrores da escravidão quanto a força de seus sobreviventes e descendentes. “Estou viva por causa dos negros que permaneceram firmes em terreno instável”, declarou uma das participantes. Para ela, preservar a memória dos ancestrais e transmitir suas histórias é um compromisso com as futuras gerações.
O cemitério, agora protegido, simboliza um legado que resiste ao apagamento histórico, reafirmando o papel da memória coletiva na construção de um futuro mais consciente.
Com informações da revista TIME.