Entendo que o uso do termo “identitarismo” por parte de pessoas brancas, e, por vezes, também por pessoas negras, de ambos os espectros políticos, refere-se não só ao debate sobre racismo, mas também aos debates sobre gênero e orientação sexual. Mas aqui, irei me ater a crítica ao “identitarismo racial”.
Por parte da direita e da extrema direita, a “crítica” ao “identitarismo racial” surge amparada pelo discurso da democracia racial e do foco no esforço individual. Ou seja, todos têm as mesmas oportunidades, basta apenas trabalhar mais e deixar de “mimimi”. Este discurso por parte dos direitistas produz uma ideologia desracializada das relações sociais, como se eles, ao produzirem este discurso, não estivessem defendendo a si próprios e seus privilégios raciais. É flagrante que o discurso produzido pela extrema direita faz apologia aos valores ocidentais, ao cristianismo, à estética branca e à visão de mundo dos brancos. Neste discurso, eles escondem seus privilégios raciais numa suposta “meritocracia” e uma “superioridade natural” da cultura ocidental.
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Os brancos possuem identidade racial e militam por ela o tempo todo. Mas como o usual é dizer que o problema do racismo é o problema do negro, o branco se invisibiliza racialmente fazendo com que qualquer reinvindicação básica para população negra seja vista como apelo ao discursos divisivo de raça. No caso dos muitos brancos da esquerda brasileira, a crítica ao “identitarismo” está ancorada na premissa de que esta discussão tira o foco dos verdadeiros problemas da classe trabalhadora: emprego, renda e o enfrentamento ao capitalismo. Aproveito para dizer que não existe classe trabalhadora sem negros.
Como nos lembra Cida Bento, o trabalho lança raízes no Brasil com a chegada de africanos escravizados. Portanto, a raça atravessa todas as discussões importantes do país, seja econômica, seja saúde ou educação. O trabalhador e trabalhadora precarizados tem cor, os dependentes do SUS tem cor, os analfabetos têm cor, a pobreza e a riqueza possuem colorações distintas. Em suma, um discurso político que não leve em conta a cor e as implicações desta para a maior parte da população sequer deveria merecer crédito, pois do contrário ele continuará produzindo precarização para os mesmos de sempre.