A liberdade, em termos cronológicos é algo muito recente na história dos negros brasileiros. Se pensarmos que há 129 anos atrás não éramos livres, podemos constatar que nosso avós e bisavós estavam envolvidos parcial ou integralmente no maior sistema de exploração humana da história da humanidade. E esse é um dos motivos para se celebrar quando nos unimos e celebramos nosso progresso, enquanto famílias negras, a despeito do racismo e opressão.
Estive intensamente envolvida na realização do Quilombinho. Um evento de férias afrocentrado,mas aberto para todo mundo, que aconteceu nesse final de semana de 15 e 16 de de julho, no Centro de Culturas Negras do Jabaquara, em São Paulo.
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A proposta do evento, originalmente criado pela ONG Instituto das Pretas do ES, foi realizar atividades com influência africana ou afro-brasileira para crianças e suas famílias. E foi uma grande festa. Novas amizades surgindo entre os pais, mães, filhos e até avós. Pratos doces e salgados trazidos por essas famílias foram divididos coletivamente, o que configurou ao evento um forte senso de comunidade.
Não é sempre que vemos negros de classe média se reunindo com outras famílias e a programação foi elaborada para atender a demanda desses pais e filhos.
Tivemos professores, pedagogos, empresários, educadores e artistas em contato direto com os presentes, ensinando cultura negra, a nossa relevância para o Brasil e para o mundo, além de trazerem o conceito de ancestralidade para uma geração tão eletrônica como a das nossas crianças.
O evento aconteceu sem patrocínio e sobrou alimento e diversão para todo mundo. A comunidade negra vive um novo momento. Apesar de a maior parte ainda estar em situações de vulnerabilidade e pobreza há um número crescente de famílias que são economicamente ativas, consomem e querem o melhor para os seus filhos. Não podemos invisibilizar essas pessoas, elas são muitas e as responsáveis em criar as crianças que já tem um acesso à educação melhor do que a dos nossos pais e que serão a voz da comunidade negra no futuro.
Elevar a auto-estima por meio de encontros e celebração, era o que nossos ancestrais em África faziam. Comemorar a liberdade e a prosperidade é necessário para nos mantermos firmes em um mundo ainda tão difícil para nós negros.
Não nos sintamos culpados por sermos felizes.