Punho Negro é uma heroína negra, possuidora de super força, ela patrulha as ruas combatendo o crime, ajudando cidadãos e lidando com a burocracia da Associação de Heróis. Seu alter ego é Tereza, que precisa equilibrar as funções heroicas com o casamento, despesas do lar e a criação dos filhos.
Punho Negro é a estrela da websérie homônima e teve sua primeira temporada exibida em 2018 no Facebook e Youtube. A produção ganhou o prêmio ‘Rio Webfest’ de Melhor Ideia Original no mesmo ano. Agora a heroína vai ganhar a segunda temporada na Wolo TV (streaming que vem focando em conteúdo preto nacional).
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O Mundo Negro conversou com os envolvidos em “Punho Negro” sobre a concepção da série e planos para o futuro. “Queria fazer uma série que falasse da mulher negra e que pudesse trazer algumas dessas questões da nossa sociedade machista e racista e pensei nessa mulher superpoderosa. Principalmente por termos poucas mulheres protagonizando as histórias de heróis, ainda menos mulheres negras”, explicou o diretor e roteirista baiano Murilo Deolino Silva Souza (34).
Deolino levou o esboço de ideias para o coletivo ÊPA Filmes da qual participa e aí iniciou-se um processo de escrita coletiva que moldaria a personagem para o que viria a aparecer na websérie. Com os aspectos psicológicos da Punho Negro definidos, a equipe do coletivo precisava escolher os atores que dariam vida aos personagens. Uma das produtoras e diretoras do projeto, Milena Anjos, chamou o ator, diretor e roteirista Heraldo de Deus para um teste e após ler as informações aceitou ajudar mesmo que não fosse para interpretar, mas acabou sendo escolhido para viver o Vagner, marido da heroína.
Sobre seu personagem, Heraldo e equipe fizeram reuniões para discutir o lugar que esse homem negro estava sendo colocado na série. Vagner é afetuoso, mas reproduz algumas opressões. Em uma das cenas mais hilárias da websérie, o marido da Punho Negro liga perguntando sobre o paradeiro de suas cuecas enquanto ela lutava contra um super vilão.
Quem empresta rosto e voz para Punho Negro é Carolina Ferreira Alves, 34 anos, atriz e produtora cultural, também convidada por Milena Anjos. “Ela sabia q eu era atriz também e houve este convite. Fiz o teste, já me divertindo demais, além de tratar sobre questões que eu como atriz já me identificava. A partir do momento que fui selecionada, fui convidada a fazer parte do coletivo e consecutivamente do roteiro da trama”, explica Carol.
A atriz, estrela da série, se identifica com a personagem em vários aspectos. Ao responder sobre os paralelos entre Punho Negro e Carol Alves, a produtora cultural levanta questões densas que perpassam ambas. “Punho Negro mexe em muitas coisas em mim. Ela sabe quem ela é o que pode fazer, é corajosa, até um pouco explosiva. Mas também, com tantas responsabilidades e tantos dedos de dúvidas quanto a sua capacidade, difícil não ser”, analisa.
Para quem começar a acompanhar a série saberá que está vendo muito de quem é a atriz por trás da máscara e isso traz uma espontaneidade bem-vinda. Punho Negro é carismática e facilmente identificável pelo público, principalmente mulheres pretas que vão conseguir ver um reflexo de suas rotinas mostradas em tela.
Com uma produção limitada para orçamento, a equipe de produção usou a criatividade para os efeitos especiais. “Nas cenas que Tereza suspende o bandido pelo pescoço ou quando a mãe dela levanta o fogão usando apenas uma mão, filmamos num enquadramento que não revelava que tinham pessoas da equipe suspendendo o fogão e o ator que interpretou o bandido”, revela Deolino.
“Punho Negro’’ é um ponto fora da curva na produção audiovisual brasileira. Ao contrário da corrente que vem ganhando força em outros países, com produções capitaneadas por produtores pretos e estreladas também por pessoas negras, o Brasil ainda carece de oferecer entretenimento com boa representatividade. Sobre essa questão, reflete Heraldo”.
Heraldo defende a criação de uma ponte de diálogos decolonizada. “Eu que além de ator sou roteirista e diretor, procuro cada vez mais, nas minhas criações, propor uma forma de construção com diálogo, criação coletiva, gestão horizontal, transparência onde todes tem a possibilidade de propor pra contar uma história”, conclui.
Os episódios da primeira temporada de ‘Punho Negro’ são dinâmicos, com a melhor parte do humor vindo das interações entre Tereza e Vagner, que funcionam graças á química entre Carolina e Heraldo. Dá para maratonar em pouco tempo sem medo de ficar entediado.
Para a próxima temporada, a equipe promete temas mais densos e mais respaldo financeiro para a parte técnica. A segunda parte da saga terá apoio da Oi, um edital de projetos incentivados conseguido através do Fazcultura (programa da Secretaria de Cultura da Bahia que ajuda a financiar projetos culturais).
Punho Negro terá sua primeira temporada disponibilizada na Wolo TV no dia 9 de maio. Já a segunda temporada tem previsão de estreia para 2 de julho deste ano.