Mundo Negro

Cleonice Gonçalves, primeira vítima da Covid-19 no Brasil, simboliza impacto desproporcional da pandemia sobre a população negra

Foto: Reprodução

No último dia 12 de março, a primeira morte por Covid-19 no Brasil completou cinco anos. Cleonice Gonçalves, uma empregada doméstica negra de 63 anos, foi a primeira vítima fatal da doença. A mulher, que trabalhava desde os 13 anos de idade, pode ter contraído o vírus na casa da patroa, que chegou da Itália e estava infectada, no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro. A pandemia da Covid-19 colocou a saúde da população mundial em risco, sobretudo a das pessoas negras no Brasil, que foram as que mais morreram, de acordo com estudos publicados no período pandêmico.

A emergência de Covid-19 foi decretada pela Organização Mundial da Saúde em janeiro de 2020, e só em maio de 2023 a OMS estabeleceu o fim do alerta, nesse período, no Brasil, um total de 708.638 pessoas morreram de acordo com o DataSUS. Nesse contexto, a população negra, que foi a que mais morreu e a que menos recebeu vacinas. Outros dois estudos realizados pelo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde, grupo da PUC-Rio, e outro do Instituto Pólis, mostraram que negros – pretos e pardos, de acordo com a denominação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – morreram mais do que brancos em decorrência da Covid-19 no Brasil. Enquanto 55% dos negros morreram por Covid, a proporção entre brancos foi de 38%. Uma reportagem da Agência Pública revelou a diferença entre negros e brancos vacinados. Ao todo, 3,2 milhões de pessoas que se declararam brancas receberam a primeira dose do imunizante contra a Covid-19. Entre os negros, o número despencava para 1,7 milhão.

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Um estudo da Oxfam, de 2021, também apontou que a pandemia foi caracterizada como um possível “genocídio dos mais pobres”, à medida que avançava nas periferias e favelas, onde a população negra é majoritária e, muitas vezes, não podia fazer home office. Como foi o caso de Mirtes Renata, em Recife, Pernambuco, que perdeu o filho, Miguel, porque precisou levá-lo ao trabalho na casa da patroa, Sari Corte Real, onde era empregada doméstica. O menino não morreu de Covid, mas o descumprimento do isolamento social foi determinante.

Mirtes Renata saiu para levar o cachorro da patroa para passear e deixou seu filho sob os cuidados de Sari, que abandonou o menino sozinho no elevador. A criança foi até o nono andar do prédio para procurar pela mãe, Miguel caiu de uma altura de 35 metros e não resistiu aos ferimentos. O caso emblemático que levou Miguel à morte é um retrato de como a classe média brasileira trata os demais trabalhadores, mantendo-os subordinados a jornadas de trabalho mesmo em condições de insalubridade, como no caso da pandemia de Covid-19, que colocou a vida de Mirtes e de Miguel em risco.

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