Pesquisas recentes já mostraram o quanto pessoas pretas e periféricas estão mais expostas ao vírus da covid-19 quando comparadas a pessoas brancas e da classe média. Os trabalhadores informais, CLT e até os profissionais de saúde negros que estão atuando na linha de frente no combate ao vírus, estão sendo as maiores vítimas de Covid-19 no Brasil.
Segundo pesquisa realizada em novembro de 2020 pela ONG Instituto Polis, foram 250 óbitos de homens negros pela doença a cada 100 mil habitantes, entre os brancos, são 157 mortes a cada 100 mil. Entre as mulheres, as negras morreram mais: foram registradas 140 mortes por 100 mil habitantes, contra 85 por 100 mil entre as brancas.
Notícias Relacionadas
Com o plano de vacinação já em vigor, a desigualdade racial e social ficará ainda mais em evidência, já que pretos e pobres não foram diferenciados no Plano Nacional de Imunização, dessa forma, o grupo continuará mais exposto ao vírus quando comparado a outros grupos sociais. De olho nessa problemática, cientistas reforçam e defendem que pessoas pertencentes a grupos ‘minoritários’ da população seja incluída entre as prioridades do Plano de Imunização.
“Os pobres, em especial os negros, são obrigados a se expor mais, adoecem mais e morrem mais de Covid-19 no Brasil. Por isso, é justo e necessário que haja uma prioridade para eles. Isso é totalmente factível de realizar” afirma Roberto Medronho, professor de epidemiologia da UFRJ, que propôs a ideia de que os negros pobres sejam incluídos em grupos prioritários.
Os brasileiros negros representam 75% dos mais pobres e por essa razão são os mais expostos às doenças. No ápice da pandemia no ano de 2020, trabalhadores informais continuaram as atividades, pois não havia outra forma de sustentar suas famílias em meio ao contexto pandemico.
“A Covid-19 afeta os brasileiros de forma diferente. Os negros pobres correm um risco maior e isso é evidente nos dados” afirma Fernando Bozza, coordenador do estudo e pesquisador da Fiocruz e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR)
A pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcolmo, afirmou que a falta de acesso às vacinas não pode perpetuar a desigualdade que fez a população pobre do Brasil ser as maiores vítimas fatais do vírus
“Em março, alertei que essa pandemia deixaria escancarada a obscena desigualdade do Brasil. Espero que em dois meses tenhamos vacinação maciça e a parcela mais vulnerável da população não seja, de novo, negligenciada. Pobres e negros devem estar entre as prioridades” diz Dalcolmo.
Procurado pelo Extra, o Ministério da Saúde ainda não se pronunciou sobre o assunto
Confira aqui o atual Plano Nacional de Imunização