Novos relatos de racismo envolvendo visitantes da CASACOR São Paulo 2025 vieram à tona nesta semana. Duas profissionais negras que atuam como recepcionistas em ambientes da mostra descreveram episódios de constrangimento e comentários ofensivos durante o exercício do trabalho. Os depoimentos somam-se a uma sequência de interações marcadas por comentários de teor preconceituoso e racista vindos do próprio público que frequenta o evento.
Os casos ocorreram nos últimos dias da mostra, que segue até 3 de agosto no Parque da Água Branca, na Zona Oeste da capital paulista.
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Em um dos episódios, uma recepcionista foi abordada por uma visitante que, após elogiar sua aparência, iniciou uma série de comentários sobre seu cabelo. A visitante declarou:
“Vou ficar aqui um pouco pra ver se consigo pegar um pouco do seu cabelo pra mim… e pegar um pouco de piolho.”
Surpresa, a funcionária respondeu que ninguém ali tinha piolho. A visitante então retrucou:
“É porque, pra transportar seu cabelo pro meu, teria que ser através de piolho.”
O caso foi reportado internamente à organização, e a visitante foi abordada ainda no local por uma responsável pela produção. Ao ser questionada sobre a fala, afirmou que foi “mal interpretada” e que se tratava “de uma brincadeira”.
Em outro episódio recente, uma segunda recepcionista ouviu de uma visitante que “a CASACOR não é lugar de militância”, em tom de reprovação ao destaque dado à racialidade no projeto de um dos ambientes. Em seguida, a mesma visitante comentou:
“Não precisava dizer que o arquiteto é negro.”
As profissionais relataram à equipe do Mundo Negro que esse tipo de abordagem, apesar de não ser explícita em todos os casos, ocorre com frequência durante a mostra.
Os relatos dão conta de um ambiente onde, mesmo com discursos de inclusão, trabalhadores negros ainda enfrentam abordagens atravessadas por racismo velado, microagressões ou ofensas diretas vindas de um público que muitas vezes se sente à vontade para expressá-las.
Na semana anterior, o arquiteto Gabriel Rosa já havia publicado um vídeo registrando uma visitante fazendo falas racistas a respeito de cotas raciais e profissionais negros da área da saúde. O episódio teve ampla repercussão nas redes sociais e chamou atenção para o tratamento dado a profissionais negros em eventos de alto padrão do setor de arquitetura e design.
Procurada, a organização da CASACOR enviou nota à imprensa em que afirma:
“Repudiamos veementemente qualquer ato de racismo, discriminação ou violência. São atitudes inaceitáveis e criminosas que não têm lugar em nossos ambientes. Nosso compromisso com a dignidade humana é inegociável.”
A mostra segue até 3 de agosto, no Parque da Água Branca, em São Paulo.