CartaCapital veicula matéria associando o modo de vida dos quilombolas ao movimento de pessoas da Cracolândia, conhecido como “fluxo” e causou indignação. A matéria publicada na quinta-feira, 4 de julho, escritor por Mariana Serafini, faz associação com referência a uma tese de doutorado da antropóloga Amanda Amparo, que afirma ter identificado “uma similaridade desse ‘ajuntamento de pessoas vulnerabilizadas’ com os antigos quilombos”.
“A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) vem a público repudiar a matéria de capa da Revista CartaCapital, Nº 1318, sob o título ‘Quilombo paulista’. Consideramos que a associação da Cracolândia de São Paulo aos quilombos reforça estereótipos que criminalizam o povo negro”, escreveu a CONAQ em nota de repúdio divulgada neste sábado (6), junto com a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Distrito Federal (Cojira-DF).
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“Sabemos que a população afrodescendente brasileira é vítima do racismo estrutural que, no caso dos que circulam na Cracolândia e no ‘fluxo’, se traduz também na violência de Estado e na falta de políticas públicas que tratem o problema como uma questão de saúde mental. A nossa luta é pelo bem-viver de todo o povo negro”, acrescentam as entidades.
A CONAQ e a Cojira-DF ainda destacam que houve uma apropriação da história de resistência dos quilombolas para nomear um fenômeno complexo que reforça estereótipos negativos. “Isso é reforçado inclusive em imagens que ilustram a matéria”, apontam.
Agora, as entidades exigem uma retratação imediata. “Até quando será necessário ter que lembrar à CartaCapital o que é um quilombo, quantos são, quais as suas contribuições ao Brasil e suas lutas, principalmente pela regularização de seus territórios. Em maio, durante o evento Aquilombar, em Brasília-DF, maior encontro de povos quilombolas do Brasil, essa importância, força e unidade, foram demonstradas e os direitos dos povos quilombolas, reiteradamente cobrados”.
Segundo os dados do Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população quilombola no Brasil conta com 1,32 milhão de pessoas.
Até o fechamento da matéria, a CartaCapital não havia se pronunciado sobre o assunto.