“Se você não tem uma pessoa negra no local de poder, alguma coisa está errada”, reflete atriz Clara Moneke sobre inclusão no mercado de trabalho

“Eu acho que a gente precisa de mais processos de inclusão, não só de negros, mas de pessoas com deficiência também, nós que estamos mais a margem da sociedade”, diz a atriz Clara Moneke, durante a 2ª edição de Inclusão em Foco, evento realizado pela Arcos Dorados, a operadora da rede McDonald’s em 20 países da América Latina e Caribe, nesta segunda-feira, 27 de novembro. 

Ao lembrar de um caso em que apenas médicos negros eram parados na recepção de um hospital para mostrarem os documentos, a modelo diz como isso reflete na importância de ter pessoas negras em cargos de liderança. 

“Se você não tem uma pessoa negra no local de poder, alguma coisa está errada. Se você só tem um negro atrás do balcão ou limpando o chão, não é só sobre isso. Não é contratar por contratar. É contratar onde as pessoas possam ter um lugar de poder, de tomada de decisões e a gente está muito atrasado em relação a isso”, completa a atriz, em reflexão com a apresentadora Luana Xavier e a jornalista Semayat Oliveira como mediadora do painel, sobre a luta contra o racismo estrutural no Brasil. 

Luana Xavier, Clara Moneke e Semayat Oliveira (Foto: José Paulo/Mundo Negro)

Para Luana, a luta antirracista ainda precisa sair mais dos discursos para as ações. “Discurso é importantíssimo como primeiro passo. A gente precisa trazer isso para a realidade. Não adianta você falar que você está com mil ideias e chegar apenas no mês de novembro. Se o 20 de novembro é uma marca, é importantíssimo a gente trazer luz e colocar mais holofotes em cima dessa questão. Mas, vale lembrar que eu não sou preta só em novembro, eu sou preta o resto do ano”, reforça. 

Fábio Sant’Anna, Diretor de Gente, Diversidade e Inclusão da Arcos Dorados Brasil, relata como foi a experiência de realizar um programa de integração junto aos restaurantes do McDonald’s, com todos os colaboradores, durante o painel mediado pela CEO do Mundo Negro, Silvia Nascimento, sobre empregabilidade para pessoas negras. 

“Eu lembro que eu pedi um uniforme, saí de casa com o uniforme. O primeiro restaurante em que eu fui trabalhar era dentro do shopping Iguatemi. E eu, com 1,85m, entrando com o uniforme do Méqui, tentando, de alguma forma, experienciar o que o nosso colaborador percebe na sociedade, no seu simples ato de ir e vir”, conta Fábio Sant’Anna.

Fábio Sant’Anna, Diretor de Gente, Diversidade e Inclusão da Arcos Dorados Brasil (Foto: José Paulo/Mundo Negro)

E completa: “Eu percebi os olhares, transitei no shopping, fui oferecer cupom às pessoas. Em dois meses, no meu convívio com as pessoas, percebi que estava entrando num ambiente onde o tema diversidade era bastante disseminado. E obviamente, eu também ouvia muitas histórias, que na minha visão, não demonstravam pontos de evolução. Então, hoje, internamente, assumo o tema de diversidade bastante diferente sobre o tema da inclusão. Inclusão é gerar um senso de pertencimento”. 

A pauta racial é uma das prioridades da Arcos Dorados no Brasil. Atualmente, as pessoas negras compõem 63% do quadro de colaboradores. Somente neste ano, a companhia contratou 10 mil pessoas negras, o que representa 65% do total de contratações. Além disso, 63% de todas as promoções gerais foram conquistadas por pessoas negras e 51% das promoções a cargos de liderança, também foram conquistadas por elas. Quando falamos especificamente de ações afirmativas, cerca de 200 pessoas negras receberam bolsas de estudos de inglês, aproximadamente 400 pessoas negras foram contempladas com bolsas de estudo do preparatório para o Encceja e talentos negros que ocupam ou estão mapeados para posições de liderança estão sendo contemplados com bolsas de estudos em programas executivos de uma parceria com a Fundação Dom Cabral.

A luta contra o capacitismo também foi outro foco do evento. Entre os destaques do dia, a influenciadora e psicóloga Pequena Lô relembrou um caso de preconceito sofrido em 2021, ao ser impedida de embarcar no voo com o seu aparelho, que substitui a cadeira de rodas, mesmo sendo legalmente autorizado.

Influenciadora Pequena Lô e Carolina Ignarra, CEO da Talento Incluir (Foto: José Paulo/Mundo Negro)

“Eu vou estar nesses lugares, ele querendo ou não. Eu resolvi expor, na época, porque foi algo muito surreal. E era uma companhia aérea para servir [de exemplo] para as outras também, e para as pessoas. Porque não adianta a companhia ser acessível e essas pessoas como os comandantes, não serem”, pontua a influenciadora sobre a importância de os funcionários também estarem interligados à política de diversidade e inclusão nas empresas. 

Já o Nico Nascimento, Analista de ESG/D&I, durante o painel sobre empregabilidade para pessoas com deficiência, fala sobre os desafios que ainda permanecem no Brasil, como a falta de contratação, promoção de cargos nas empresas e renda menor do que uma pessoa sem deficiência.

“Eu me tornei uma pessoa com deficiência em 1993, praticamente junto com o surgimento da Lei de Cotas. Era muito difícil porque as pessoas de recursos humanos e as empresas não sabiam como lidar, a gente se sentia muito deslocado. E hoje, eu ainda eu percebo as empresas tateando as mesmas coisas que a gente falava há 32 anos atrás”, conta o profissional. 

Nico Nascimento Analista de ESG/D&I (Foto: José Paulo/Mundo Negro)

Nico ainda destaca a importância de abordar a interseccionalidade da luta contra o capacitismo com a questão racial. “Hoje se fosse nomear uma persona com deficiência, seria uma mulher, preta ou parda. Então faz todo o sentido a gente conectar a questão do movimento da raça, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)

De acordo com a pesquisa Pnad Contínua 2022, “o perfil das pessoas com deficiência se mostrou mais feminino (10,0%) do que masculino (7,7%) e ligeiramente maior nas pessoas da cor preta (9,5%), contra 8,9% entre pardos e 8,7% entre brancos”.

Lucas Assis, Atendente do restaurante McDonald’s em Alphaville, possui deficiência intelectual e compartilha como tem sido sua experiência. “Eu gosto muito de trabalhar no Méqui, foi o meu primeiro emprego. Eu não queria mais só estudar, queria trabalhar e o Méqui me deu uma oportunidade e me contratou”, conta. “Eu trabalho no salão, é muito bom ter o contato com os clientes. Quando eles me chamam, eu ajudo no que precisar”, finaliza.

Lucas Assis, Atendente do restaurante McDonald’s (Foto: José Paulo/Mundo Negro)

Por meio de iniciativas como essa, o McDonald’s, que é reconhecido como um dos maiores geradores de primeiro emprego formal para jovens, leva seu compromisso com a diversidade, a inclusão e a geração de oportunidade a todas as pessoas para além da companhia, promovendo uma conversa sincera e construtiva na busca de um mercado de trabalho mais inclusivo. 

O Fórum Inclusão em Foco faz parte da Receita do Futuro, estratégia de atuação socioambiental da Arcos Dorados, que tem como um de seus compromissos ser parte ativa da solução dos desafios da sociedade e impactar positivamente as comunidades onde está presente.

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