Artigo escrito por Alexon Fernandes
Nos últimos dias, dois episódios tomaram o debate nas redes sociais: as falas racistas de Nelson Piquet em relação ao heptacampeão de Fórmula 1, Lewis Hamilton, e o diretor de tecnologia negro que desfez um contrato de R$ 1 milhão, depois de ouvir palavras ofensivas numa reunião com um fornecedor.
O filósofo camaronês Achille Mbembe postula sobre a “lógica dos currais”, na qual os negros são colocados numa configuração de humanidade subalterna. Ou seja, por essa lógica, negros devem sempre estar não só em posições sociais inferiores, mas também longe de qualquer possibilidade de ascensão. No mundo do trabalho, onde as relações de poder estão presentes o tempo todo, estes “currais” ainda são muito evidentes. Profissionais negros são obrigados a provarem suas habilidades constantemente, são observados com a lupa dos preconceitos e se tornam alvo preferencial de críticas.
São muitas as situações em que esses profissionais precisam de uma espécie de validação de suas capacidades, conhecimentos e realizações. Ou são atacados com adjetivos pejorativos, principalmente quando estão em posições antagônicas – seja numa negociação ou numa concorrência. Em situações assim, a carta da branquitude é lançada. Os negros “perdem” seus nomes e são chamados de forma pejorativa, são taxados de abusados ou antipáticos – “Quem ele pensa que é?”, é a pergunta feita por muitos.
Um dos maiores desafios que profissionais negros em trajetória de ascensão profissionais tem que enfrentar é lidar com situações assim, em que seus conhecimentos e poder decisão são testados. As palavras ofensivas são usadas para tentar desestabilizar e diminuir. Estar atento e pronto para as respostas à altura é essencial. No âmbito institucional, as empresas devem apoiar esses profissionais e combater todos os tipos de ação discriminatória.