Programa Conselheira 101 realiza a primeira formatura com executivas negras que se prepararam para conselhos administrativos

Mais de 60 mulheres já passaram pelo C101. Das participantes, 47% delas ingressaram em Conselhos Administrativos, Consultivos, Eméritos, Fiscais/Auditoria

Uma ação afirmativa criada com o objetivo de ampliar o conhecimento – e as oportunidades – em governança corporativa para mulheres negras. Assim é o Conselheira 101, programa sem fins lucrativos que, em dezembro, realiza a formatura das alunas participantes das três primeiras turmas. O evento, que aconteceu nesta quinta-feira (15) em São Paulo, reuniu executivas negras ocupantes de cargos de alta liderança em empresas nacionais e multinacionais.

“Acho que não é sobre protagonismo, mas sobre criar plataformas para que as pessoas possam brilhar. Nós, assim como Viola Davis, acreditamos que tudo o que as mulheres pretas precisam é de uma oportunidade. E quando a gente deu oportunidade para essas três turmas, elas preencheram conselhos fiscais, consultivos, de auditoria, e tem muito mais por vir”, diz Lisiane Lemos – advogada, especialista em transformação digital e co-líder do C101, que credita a força do projeto, principalmente, à união das nove pessoas negras e não negras, de todas as gerações, engajadas em transformar a governança corporativa atual.

Seguindo a mesma linha sobre o mote se contrapor ao protagonismo, Jandaraci Araújo acredita que o que move o sucesso do Conselheira 101 é a força do coletivo. “Não é sobre protagonismo, é sobre transformação e nenhuma transformação acontece sozinha. Então, hoje, estar com as três turmas aqui, formando essas mulheres e já idealizando a T4, é sobre acreditar que podemos transformar de verdade e criar novos espaços. Por que o nosso topo da montanha é platô e cabe muita gente”.

Para Ana Paula Pessoa, o ambiente também se faz relevante, especialmente pela troca, pelo reflexo e pela representatividade. ”Chega de dizer que não existe, por que elas estão aí, enchendo uma sala com muito potencial, com mulheres negras absolutamente preparadas para qualquer posição. É muito poderoso elas estarem se vendo, a imagem uma da outra, por que a força delas também é estarem juntas. Esse caleidoscópio é o Brasil, ukm Brasil 54% negro. O que estamos vendo é muito lindo”.

Salientando que o programa deu visibilidade aos talentos escondidos, Leila Loria reforça a importância de “poder apresentar para o mercado essas novas conselheiras 101”. Além de Lisiane e Jandaraci, o grupo fundador é formado também por Ana Paula Pessoa, Graciema Bertoletti, Marienne Coutinho, Ana Beatrix Trejos, Elisangela Almeida, Leila Loria,  Patrícia Molino e Mayra Stachuk.

Dois anos de C101

Lançado em 2020, o Conselheira 101 já atendeu 62 mulheres negras nas três turmas formadas. Ao todo foram 50 speakers convidados para os 45 encontros realizados. Neste período, 47% das participantes ingressaram em Conselhos Consultivos, Eméritos, Fiscais/Auditoria e/ou Administrativos, alcançando 50% de movimentações executivas.

Viviane Elias, participante da T1, entende o C101 como um divisor de águas para a sua jornada pessoal “por toda a construção que foi feita depois do C101, toda a visibilidade que veio. E ser da primeira turma é mais que uma responsabilidade, mas uma obrigação de trazer mais mulheres para furar a bolha comigo e fazer as coisas acontecerem de maneira proativa para todo o coletivo de mulheres negras que precisam ser visibilizadas nas suas potências, nas suas carreiras e no seu entendimento”.

A economista Dirlene Silva, que também é empreendedora, tentou se inscrever para a primeira turma desde que tomou conhecimento do projeto, há dois anos. A segunda turma se formou e ela também não conseguiu garantir participação, que só veio em 2022, com a formação da T3. “Estar aqui é uma grande emoção porque, para mim, significa uma transformação que vai ajudar a mudar o meu entorno e promover, realmente, um impacto social”.

Considerado um momento de relevância histórica, a expectativa é que a 4ª turma seja anunciada em breve. “Se alguém falasse que a gente teria essa quantidade de mulheres negras interessadas em assumir posições em conselhos, se preparando para assumir posições, fazendo parte desse networking de governança e, de fato, ocupando posições em conselhos há pouco (ou muito) tempo, diríamos que isso era impossível. Até porque a gente vinha com outras causas também há muito tempo sem uma evolução significativa. Então, para mim, realmente esse movimento e esses resultados são históricos”, pontua Marienne Coutinho.

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