Por Kelly Baptista, Gestora Pública, diretora executiva da Fundação 1Bi, mentora e membro da Rede de Líderes Fundação Lemann.
Mesmo com os avanços na igualdade de gênero e na legislação trabalhista, muitas mulheres ainda enfrentam desafios significativos ao equilibrar a maternidade e suas carreiras profissionais.
A ideia de que a maternidade é uma sentença para a carreira das mulheres existe e talvez, por isso, esse tema seja tão recorrente nas empresas. Infelizmente, há fundamento para a crença do fim de carreira para mulheres em maternidade: metade das mulheres grávidas são demitidas em até dois anos após a volta da licença-maternidade.
Ainda precisamos contar com alguns fatores que dão indícios de que ser mãe pode ser um problema para algumas mulheres, dependendo da empresa que estão:
Desigualdade salarial: A disparidade salarial entre homens e mulheres ainda existe, e a maternidade pode agravar essa diferença, já que as mães precisam tirar licença-maternidade ou reduzir suas horas de trabalho, muitas mulheres negras, não conseguem viver esse momento já que que compõem a base da pirâmide social, e ocupam os cargos de serviço doméstico, deixando os seus e suas casas para cuidar dos filhos das classes mais altas.
Estigma e discriminação: As mães podem enfrentar estigma e discriminação no local de trabalho, como serem vistas como menos comprometidas com suas carreiras ou serem preteridas para promoções e oportunidades de desenvolvimento profissional.
O nível de ocupação (o percentual de pessoas trabalhando em relação às que estão em idade de trabalhar) de mulheres que se identificam como pretas ou pardas com crianças até três anos de idade foi de 49,7% em 2019. Entre mulheres brancas, o percentual ficou em 62,6%, isto é explicado pelo baixo percentual de crianças em creches, que não ofertam vagas suficientes em especial na periferia.
Cultura do “presenteísmo”: Em alguns ambientes de trabalho, a cultura do “presenteísmo” (estar presente no escritório por longas horas) ainda prevalece, o que pode ser especialmente desafiador para as mães que precisam equilibrar as demandas da maternidade e do trabalho, vale ressaltar que no Brasil, o trabalho doméstico emprega cerca 5,9 milhões de mulheres. Deste total, 66% são negras, residem em regiões periféricas e não dispõem de proteção trabalhista, ou seja, precisam estar nos postos de trabalho para sobreviverem.
Observando estes cenários, são inegáveis os impactos na saúde mental, já que a tripla jornada, isolada de redes de apoio, somada à tentativa de corresponder às expectativas de dar conta de todas essas tarefas, leva as mulheres negras a vivenciarem a frustração, o cansaço extremo, irritabilidade e altos níveis de estresse.
Discutir e abordar esses desafios é crucial para promover a igualdade de gênero e racial apoiar as mulheres que desejam ter sucesso tanto na maternidade quanto em suas carreiras profissionais. Ao continuar falando sobre esse assunto, podemos aumentar a conscientização, promover mudanças nas políticas e práticas no local de trabalho e incentivar uma divisão mais igualitária das responsabilidades familiares entre homens e mulheres e sociedade.