Vamos ser honestos e aceitar que a vida pessoal e a profissional sempre estiveram entrelaçadas. Antes, o que existia era uma divisão de tempo e espaço, mas, na realidade, tudo sempre esteve interligado. Nossos filhos já faziam parte do nosso dia a dia no trabalho, e as obrigações profissionais frequentemente invadiam nossos lares.
Com a chegada da pandemia, as barreiras físicas que mantinham essas áreas separadas desapareceram, e a discussão sobre como conciliar carreira e vida familiar tornou-se inadiável. As mulheres não deveriam ter que escolher entre ser MÃES e ter uma CARREIRA, mas a realidade mostra que a maioria luta para manter o equilíbrio entre esses dois mundos.
Um estudo do ano de 2023 da Revista Crescer revela que:
- 69% das mulheres com filhos na primeira infância acreditam que seu crescimento profissional é mais lento em comparação com aquelas que não optaram pela maternidade.
- 39% das mães na primeira infância relatam ter perdido oportunidades de trabalho devido à gravidez.
- 44% das mulheres com filhos consideram a escolha da maternidade uma decisão pessoal e familiar, enquanto apenas 9% se sentem mais confortáveis para ter filhos no início da carreira.
A noção de que a maternidade limita a carreira feminina é uma realidade dura, sustentada pelo fato de que muitas mulheres são demitidas até dois anos após retornarem da licença-maternidade.
Quando focamos nas mulheres negras e das periferias, percebemos que a pandemia as impactou de maneira distinta, exigindo uma abordagem diferenciada. No Brasil, segundo a última Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, em 2018, indicou que 63% dos lares chefiados por mulheres negras no Brasil se encontravam abaixo da linha da pobreza, vivendo com renda mensal de aproximadamente R$420,00.
Mulheres negras, muitas vezes com menor escolaridade, não puderam se beneficiar do trabalho remoto. Elas predominam nos setores de atendimento ao público que não são essenciais, como limpeza, alimentação, beleza, hotelaria e entretenimento.
Os efeitos dessas circunstâncias na saúde mental são evidentes: a sobrecarga de trabalho, a falta de redes de apoio e a pressão para atender a todas as expectativas levam a sentimentos de frustração, exaustão, irritabilidade e estresse elevado.
Segundo um estudo realizado em 2022, pelo Centro de Estudos da Cor da Pele (CECOP) e Instituto Avon, a maternidade intensifica as desigualdades já existentes no mercado de trabalho para mulheres negras, expondo-as a diversas formas de discriminação e racismo.
As mulheres negras mães enfrentam dificuldades para conciliar as demandas da maternidade com as exigências do trabalho, o que pode levar à sobrecarga de trabalho, esgotamento físico e emocional, e até mesmo ao abandono da carreira. A falta de apoio familiar e social, a ausência de políticas públicas adequadas e a discriminação no ambiente de trabalho contribuem para os desafios enfrentados pelas mulheres negras mães. O estudo destaca a importância de políticas públicas que promovam a igualdade racial e de gênero no mercado de trabalho, como a criação de creches públicas, a ampliação do período de licença-maternidade e a flexibilização da jornada de trabalho.