2023 foi marcado pelo inverno das startups, um sentimento de insegurança pairou boa parte do ano, mas qual o real motivo?
Nos últimos tempos temos ouvido o termo layoff frequentemente, em especial após o período pandêmico, por conta das levas de demissões realizadas no mercado em especial de tecnologia. Mas o termo originalmente não vem da demissão em si, mas significa um afastamento temporário de um grupo de trabalhadores, um “período de inatividade”.
O início de 2023 foi marcado por uma sequência inédita de demissões em massa no Brasil, só em janeiro do ano passado mais de 11 mil pessoas foram desligadas.
No exterior, grandes players como Google, Meta, Microsoft e Amazon também vivenciaram experiências semelhantes. Seria isso um sinal claro de uma extinção em massa iminente ou apenas um movimento cíclico de readequação do mercado a uma nova realidade?
Mas o que houve?
Dois fatores principais que levaram aos layoffs no Brasil foram: a situação econômica e uma transformação estrutural nas companhias.
No que diz respeito à situação econômica, as empresas do setor precisaram de muito investimento para crescer. Com a inflação elevada e os juros altos, no entanto, os processos para tomada de crédito e financiamento desse crescimento ficaram mais caros, impactando inclusive no quadro de trabalhadores.
Já em relação à estruturação dessas companhias, muitas delas contrataram profissionais por valores muito altos, o que começou a afetar as contas, as empresas passaram a oferecer salários altíssimos para atrair mão de obra e agora devem passar a praticar valores mais próximos do mercado.
Uma outra percepção nas primeiras demissões foi de que é possível preservar a eficiência operacional com menos recursos, isso criou uma pressão para que todas as empresas passassem a operar com estruturas mais enxutas. Esse fenômeno ficou conhecido como ‘inverno das startups’.
Estratégias ambiciosas de expansão, caracterizadas pela abertura de novas vagas e investimento pesado em pessoal, foram substituídas por reduções no quadro de funcionários visando a otimização de custos. Especialmente em um cenário em que os salários dos profissionais também estão inflados.
Um recorte interessante para o Brasil é que, ainda que os layoffs se concentraram nas áreas de tecnologias, os cortes aqui afetaram em especial os departamentos de diversidade, equidade e inclusão (DEI, na sigla em inglês), o que ameaça as “promessas” das empresas de impulsionar grupos sub-representados em suas lideranças.
Ofertas de empregos no ano de 2022 para área haviam caído 19% – uma queda mais forte do que em vagas nas áreas jurídicas ou de recursos humanos, de acordo com dados da Textio, que ajuda empresas a criarem anúncios imparciais. Apenas cargos em engenharia de software e ciência de dados tiveram declínios maiores, de 24% e 27%, respectivamente.
Nos últimos anos, houve um “boom” de contratações com foco em diversidade e inclusão. Após os protestos do movimento Black Lives Matter em 2020, empresas de todos os tipos prometeram aumentar a diversidade racial e de gênero em suas fileiras. Dezenas trouxeram seus primeiros diretores de diversidade e inclusão. Nos três meses após o assassinato de George Floyd, ofertas de emprego DEI subiram 123%, de acordo com dados do site de empregos Indeed.
Temos que ter em mente que Diversidade e Inclusão não podem ser valorizadas somente na fase boa dos negócios, cortar estas equipes pode significar riscos imensuráveis no futuro, caso a companhia não tenha cumprido a missão de equidade, em especial racial.