Texto: Kelly Baptista
Segundo O Globo, “o Brasil não é mais um país de jovens: a fatia da população com menos de 30 anos cai a menos da metade. (…) O fenômeno tem a ver com a combinação entre a queda na natalidade e o aumento da longevidade. A população cresce mais lentamente por causa da queda no número de nascimentos. Com isso, a proporção dos idosos na população aumenta – tanto por causa do baixo crescimento do total de habitantes quanto por causa do aumento absoluto no número de pessoas de idade avançada, já que as pessoas estão vivendo mais.”
Mas será que o mercado de trabalho está preparado para esse estreitamento e inversão de pirâmide? E a população idosa negra, onde está?
Já sabemos que pessoas idosas negras historicamente são marcadas pelo racismo, machismo, discriminação por deficiências, discriminação pela idade (também sofrida pelas pessoas idosas brancas). Também carregam as discriminações sofridas pelo CEP (negros são maiorias nos aglomerados e nas periferias), e dificuldades de acesso aos serviços, como de saúde pública com um atendimento muitas vezes discriminatório às pessoas negras idosas nos sistemas de saúde.
Pensando nesta somatória de fatores e na baixa escolaridade as pessoas negras já vivem a exclusão do mercado formal de trabalho há séculos, e atualmente somado a vieses de recrutamento e seleção potencializados por plataformas automatizadas que impossibilitam sequer que estas pessoas cheguem a um processo seletivo.
O ponto é que estamos falando de um mercado no qual jovens de menos de 30 (negros em sua maioria e brancos algumas vezes), já são discriminados naturalmente se inseridos em recortes sociais que os impeçam de ter tido grandes experiências no mercado de trabalho.
O mercado já se mostra excludente quando pensamos que um profissional experiente de uma empresa que ocupa alguma grande cadeira e tem vasta experiência no negócio na maioria das vezes é um homem branco, ao passo que mulheres brancas ou pessoas negras possivelmente nunca chegarão nesta cadeira, pois serão considerados inaptos para o mercado pela idade.
O resultado dessa inversão a gente nota no aumento de 8,8% da taxa de desemprego no primeiro trimestre de 2023, de acordo com dados do IBGE. E no recorde de 39,307 milhões de informais em 2022.
Esta mudança na estrutura etária da população somada ao aumento de pessoas autodeclaradas negras, pode sinalizar mudanças futuras no mercado de trabalho, sabemos que há idosos ativos no mercado de trabalho, além de pessoas em idade de trabalhar que estão fora da força, mas é importante sinalizar para novas políticas públicas que pensem nestes recortes.
Fonte de auxílio: https://shorturl.at/gCU17
*Kelly Baptista Gestora Pública, diretora executiva da Fundação 1Bi, palestrante, membro da Rede de Líderes Fundação Lemann e Conselheira Consultiva Despertar, Cruzando Histórias e CMOV.