A cultura inclusiva é uma parte da estratégia que protege a marca, valoriza os talentos e garante um ecossistema saudável ao seu redor. Vamos falar sobre algumas ações que podem ajudar a sua empresa a vivenciar todos os benefícios de cultivar a saúde corporativa, quando decide incluir estrategicamente alguns princípios da cultura inclusiva.
1. Pessoas colaboradoras são bem-vindas! Pode parecer redundante, no entanto, há muitas pessoas que infelizmente não entendem a importância da cultura inclusiva na estratégia, não são colaborativas, nem dispostas a compartilhar seu espaço com outras pessoas. Quando conhecemos alguém diverso, a sensação de desconforto é natural, e nem sempre estamos dispostos a acolher novas relações. Essa leitura de mundo nos manteve vivos até os dias de hoje, afinal são as afinidades que nos aproximam de grupos que nos fazem sentir em segurança. No entanto, manter-se distante da diversidade, criar barreiras atitudinais e comportamentais são nossas primeiras tendências para manter o senso de segurança e controle, e isso precisa ser reajustado de forma consciente. Tudo bem entendermos isso. E o que fazer com essa informação?
Vamos a um estudo de caso real. Junho de 2021 (RJ): uma mulher negra entra em uma loja no shopping, verifica algumas roupas nas araras e sai sem levar nada. Após 30 minutos, é abordada na área comum do shopping, por um homem aos gritos, diz que ela roubou um vestido da loja. Ela abre a bolsa, só há uma peça de outra marca. Mesmo assim, é conduzida para a área de segurança, onde pede que seja feito o resgate do vídeo interno da loja e as imagens mostram que pegou o vestido na bolsa, comparou o tamanho com outras peças, devolveu as peças na arara e guardou o vestido que trouxe de sua casa, pois quis evitar levar uma peça de tamanho errado para a sobrinha de cinco anos.
Não vamos citar a loja, mas este é um caso real que aconteceu recentemente. A empresa diz que oferece treinamento para seus funcionários. Será que nesses treinamentos há preocupação em trabalhar “o como lidar” com reações pessoais preconceituosas? Há um exercício cotidiano, consciente, para criar um ambiente inclusivo para todas as pessoas, principalmente os clientes? Se a estratégia é baseada na cultura inclusiva, o acolhimento envolve as pessoas colaboradoras, fornecedoras e clientes, sem distinção. Uma estratégia inclusiva garante a saúde da equipe e evita que aja de forma preconceituosa, realizando atividades de sensibilização.
O bom atendimento garante uma boa imagem da marca e mantém a porta aberta às futuras oportunidades. A mulher da qual falamos acima é uma influencer e, certamente, muitas pessoas de sua rede deixaram de ser possíveis clientes da loja, além de propagarem na mídia o desabafo postado por ela.
2. Incluir pessoas diversas oxigena o ecossistema! Há estudos que mostram aumentos acima de 20% na produtividade quando há equipes plurais atuando na estratégia da empresa, pois abre-se espaço para inovações. Seus repertórios diversificados permitem explorar linguagens e ações diferenciadas de contato com pessoas fora dos grupos nos quais a organização está inserida. Ampliar o segmento de pessoas colaboradoras, clientes e fornecedores por meio de ações e linguagem multimídia correta é fundamental para evitar agredir um grupo de identidade ou ignorar outros com os quais ainda não se construiu um relacionamento.
Vamos a um estudo de caso real. Junho de 2019 (SP): uma rede de alimentação, na porta de um metrô movimentado, recebe um grupo de pessoas cegas. Na entrada, uma pessoa do atendimento se aproxima e cumprimenta o grupo, perguntando se gostariam de um lugar mais próximo dos banheiros, oferecendo o braço ao homem mais próximo, e todos no grupo seguram uns nos braços dos outros e, em fila, seguem até o local indicado pelo atendente.
Os menus têm a opção de braille, e o atendente explica detalhadamente cada um dos itens dos pratos, anota cada um dos pedidos e repete para garantir que anotou corretamente, colocando o nome de cada uma das pessoas no pedido. Após alguns minutos, os pedidos chegam à mesa, e o atendente explica onde estão os temperos, que trazem um marcador em braille nas laterais dos frascos. O consumo médio da mesa é o mesmo de um grupo de jovens com 25 anos. Detalhe relevante: há três escolas na região que atendem estudantes cegos e seus professores, além de familiares que, em outros dias, vão ao local por conhecerem a estrutura pronta para atendê-los. Há piso tátil desde o metrô, nas calçadas e por todo o restaurante, inclusive nos banheiros, que têm marcações em braille.
Além dos empregos diretos de quem atende no estabelecimento, há um aumento no faturamento de várias empresas, que fornecem itens adaptados, como etiquetas em braille, talheres táteis ou peças com códigos, que podem ser lidos pelo leitor de tela dos celulares. Há melhoria na qualidade do atendimento e da vida de todas as pessoas envolvidas, de forma direta ou indireta. As pessoas colaboradoras são preparadas e sentem-se mais confiantes para atender, ampliam sua capacidade de exercitar a alteridade e tornam-se mais conscientes das ações sociais em que a empresa onde trabalham atua. Isso gera redução de turnover e melhora o clima organizacional.
Reconhecer quanto é saudável praticar cotidianamente a cultura inclusiva é o primeiro passo para garantir que ela seja vivenciada, e assim desenvolver o maior ativo de qualquer empresa: as pessoas. Sem elas, não há por que abrir as portas, nem criar inovações, investir em estratégias ou manter uma marca no mercado. Nossas ações precisam ser de cultivo, como faz uma pessoa com seu jardim: cuide das flores, deixe-o lindo, saudável e seguro para que as borboletas venham.
*Samanta Lopes é coordenadora MDI da um.a #DiversidadeCriativa, agência de live marketing – uma@nbpress.com
Sobre a um.a
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