Formada por Joana Mendes na presidência, tendo Gabriela Moura como sua vice-presidenta, Israel Bastos e Robson Rodriguez como diretores administrativos, Epaminondas Paulino e Heitor Caetano como diretores de cultura, Erick Willmer e Jessyca Silva como diretores de divulgação, Alan de Sá e Renan Damascena como diretores de editorial, Pedro Balle e Thamara Pinheiro como diretores de relações sociais e Marcelo Augusto e Mariana Mendes como diretores secretários, a Chapa Preta nasceu de um incômodo de seus componentes por só verem diversidade no discurso das empresas e das instituições que dizem os representar.
O Clube de Criação é uma entidade sem fins lucrativos, fundada em 1975 e que, anualmente, realiza um dos festivais de criatividade mais importantes e celebrados do país, tendo, ainda, o seu anuário como registro histórico dos trabalhos mais criativos da área. Porém, poucos membros dos júris técnicos e palestrantes do festival promovido pela entidade, foram pessoas pretas. O custo para se associar ao Clube de Criação não condiz com a realidade salarial do mercado, tampouco com a situação econômica em que o país se encontra.
Há uma série de incômodos no cenário da publicidade: campanhas que não falam para e com a comunidade preta, estratégias de divulgação que não contemplam veículos de mídia especializados, ausência de cargos de liderança ocupados por pessoas negras, desenvolvimento profissional de pessoas pretas, entre outros. Os diversos assuntos de Diversidade & Inclusão estão andando à passos lentos, mas passou a ser um tema discutido, finalmente. Comitês de Diversidade estão sendo criados, assim como áreas de Cultura, Gente & Gestão e parcerias com consultorias.
Mas para esse movimento acontecer agora, muitas situações aconteceram. E entre elas, um filme lançado em setembro pelo Clube de Criação, juntamente com a agência Wieden + Kennedy São Paulo, para divulgar o Festival de 2021, intitulado “Crise. Crie”. Nele, momentos históricos trágicos, como a Inquisição, escravidão nos Estados Unidos, Guerra Civil Espanhola, Segunda Guerra Mundial e a recente Pandemia da covid-19 foram destacadas como crises e subvertidas em “oportunidades” para se criar movimentos artísticos, sociais e culturais.
Não tardou para que o erro fosse apontado, principalmente no que se referia ao movimento Black Power como resultado criativo frente à organização supremacista branca Ku Klux Klan. A polêmica se espalhou pelas redes sociais, a entidade em questão e a agência retiraram o vídeo do ar e, como resultado, as lideranças da Wieden + Kennedy foram derrubadas por estarem à frente do erro.
Depois do ocorrido, o Clube de Criação confirmou as inscrições de duas chapas para concorrer à sua diretoria, pleiteando a gestão dos próximos dois anos. Uma delas é composta integralmente por publicitários negros, com o intuito de promover maior diversidade e avançar em iniciativas que, de fato, promovam a equidade na propaganda brasileira: a Chapa Preta.
A Chapa Preta acredita que diversidade alimenta a criatividade. Dentre as suas propostas, destacam-se:
● Criação de um Conselho Colaborativo, com pessoas do mercado à parte da diretoria, dentro da proporcionalidade da população, englobando pessoas negras, indígenas, LGBTQIA+, pessoas com deficiência e pessoas em situação de refúgio;
● Parceria com o Observatório da Diversidade e entidades correlatas, visando promover e publicar pesquisas com dados estatísticos sobre a diversidade na propaganda;
● Aproximar o Clube de estudantes de instituições menos visadas ou fora do eixo SP-RJ, com iniciativas que os façam acompanhar e engajar os debates do Festival do Clube de Criação e garantam fácil associação. Buscando potencializar a iniciativa dos Embaixadores do Clube de Criação;
● Incentivar o aumento do número de associados negros e não-brancos, entre outras.
As eleições para a diretoria do Clube de Criação acontecem no próximo dia 25 de outubro. Movimentos como este, são revoluções e transformações no mercado.
Que mais movimentos assim possam surgir!