A ilusão dos programas e políticas de diversidade nas empresas que incluem as pessoas negras

Texto: Ivair Augusto Alves dos Santos

Estamos recebendo e lendo de maneira crítica informes públicos sobre ações de empresas que estão adotando programas de Diversidade e Inclusão que têm na falta de transparência sobre seus dados e indicadores um denominador comum.

Recebem prêmios, são citadas em entrevistas, apresentam informes animadores, que mais parecem ser uma peça promocional da empresa, que uma prestação de contas.

Há algumas questões que precisam ser perguntadas, a primeira se a empresa tem um ambiente democrático, pois sem respeito à democracia, fica difícil acreditar que promovam diversidade e inclusão. Estruturas hierarquizadas, com lideranças autoritárias, politicamente de extrema direita são incompatíveis com a existência de um clima democrático. Raramente esses programas de Diversidade e Inclusão relatam que puniram algum diretor sobre manifestações racistas, homofóbicas, machistas. É como se lançar algumas publicações sobre o tema fosse o suficiente.

Democracia é incompatível com discriminações de qualquer natureza.

Outro tema é a noção de que implementação de políticas de diversidade e inclusão possa ser vista como política assistencialista, caridade, benemérita ou de responsabilidade social e nunca como uma política de direitos. Isso torna tudo muito diferente. Os dados e indicadores divulgados são modestos e definidos aleatoriamente, dando a entender que qualquer mudança insignificativa diante do tamanho do grupo social contribuiria de alguma forma. Quando na maioria das vezes é como se estivéssemos correndo em uma esteira, não saímos do lugar.

Quanto custa financeiramente um programa de Diversidade e Inclusão? Não existe resposta, nem dados sobre esta questão. Há uma absoluta falta de transparência nos relatórios apresentados por fundações, empresas, bancos etc. Há uma dura e cínica perspectiva que nos é passada, em que todas as ações são simbólicas, e precisam ser festejadas por menor que sejam. Devemos simplesmente agradecer, sem nenhuma crítica.Não existe diálogo, nem tampouco solidariedade entre as pessoas que são sujeitas dos programas de Diversidade e Inclusão. Cada um disputa seu percentual nas empresas, cada um procura mostrar o tamanho das desigualdades que se referem a seu grupo, sua representatividade.

A luta pela sobrevivência de todos os trabalhadores nas instituições cria limites para uma atuação mais libertária, mas um ponto há que se destacar e nos preocupar: a saúde mental de uma pessoa que passa por discriminação racial. Os transtornos mentais relacionados ao trabalho são um componente ignorado por esses programas. No máximo há uma menção sobre a criação de um espaço de escuta, ou recomendação para ações individuais de prevenção a problemas de saúde mental. A organização do trabalho em uma instituição está diretamente relacionada ao adoecimento mental, mas é ignorada na hora de equacionar elaborar as estratégias de políticas de Diversidade e Inclusão.

Um programa bem-sucedido de diversidade exige o compromisso de todos os setores da empresa, a começar por sua alta direção, assumindo a diversidade como um valor essencial da empresa, expresse-a em sua declaração de missão e incorpore-a ao seu planejamento estratégico. Entretanto, os líderes das empresas raramente manifestam-se publicamente sobre a política de Diversidade e Inclusão.

O último ponto que sintetiza um pouco esse comentário nada otimista sobre as políticas de Diversidade e Inclusão tem haver com o fato de não haver nenhuma ou raríssimas menções nas estratégias de implementação que deveria fazer parte dos relatórios e textos de divulgação sobre o respeito aos Direitos Humanos nas empresas. Esse é um aspecto que sintetizaria a necessidade de reflexões mais ambiciosas e mais próximas da realidade dos grupos sub-representados nas empresas, e na definição de ações relacionadas a políticas de Diversidade e Inclusão.

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