Em um mundo onde a imagem de sucesso ainda é muitas vezes moldada por fórmulas prontas, Kelis cria o próprio caminho com multiplicidade, profundidade e ancestralidade. Cantora premiada, chef formada pelo Le Cordon Bleu e agora também fazendeira no Quênia, ela escolheu deixar os Estados Unidos não por fuga, mas por construção. Após anos entre os bastidores da música e as cozinhas autorais, a artista decidiu que era hora de plantar outra coisa: um futuro mais alinhado com seus valores, e um legado que seus filhos pudessem viver com os pés na terra.
Essa decisão ganhou força após um período de perdas e redirecionamentos. Em 2022, ela enfrentou a morte de seu marido, Mike Mora, vítima de um câncer no estômago. O luto não a paralisou. Ele a transformou. Foi na dor que ela reencontrou o essencial. “Se eu não estiver bem, meus filhos não vão estar bem”, disse em entrevista à People. E foi nesse reencontro com o autocuidado e o tempo presente que ela decidiu construir uma nova vida. Primeiro, afastou-se de tudo o que a estressava. Depois, mergulhou de vez no propósito de viver com autonomia, alimentar a própria família e educar seus filhos de forma mais conectada com a natureza.
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Kelis já havia experimentado esse estilo de vida em sua fazenda na Califórnia. Mas foi na África que sentiu pertencimento. Ela comprou 150 acres de terra em Naivasha, no Quênia, com planos de expandir para 300 acres e criar um modelo de sustentabilidade local. Ali, cultiva produtos naturais, planeja experiências turísticas conscientes e utiliza até 95% de recursos locais para gerar renda na comunidade. É a agricultura como forma de reescrever o que significa sucesso com autonomia, criatividade e ancestralidade.
Em suas palavras, “como mulher negra, eu não vejo os Estados Unidos como um lugar que me permite crescer e investir com liberdade”. E essa percepção não é isolada. Kelis se une a um número crescente de afro-americanos que têm optado por fazer o caminho inverso. Sair dos Estados Unidos e reencontrar, na África, um senso de pertencimento, identidade e futuro. Esse movimento, que já é chamado de migração reversa, tem crescido entre famílias negras que desejam criar filhos fora do modelo acelerado, isolado e racialmente exaustivo das grandes cidades norte-americanas.
A maternidade também é um eixo central dessa escolha. Mãe de três — Knight, Shepherd e Galilee — Kelis faz questão de envolver os filhos em tarefas da fazenda e na rotina sem telas. Para ela, é essencial que meninos negros cresçam com consciência alimentar, respeito pelo meio ambiente e autoestima cultural. Tudo isso faz parte do seu legado. É sobre criar raízes onde antes havia deslocamento. Sobre transformar luto em ação. E sobre ensinar que liberdade também pode nascer do cuidado.
Mais do que uma artista versátil, Kelis se tornou símbolo de reinvenção com propósito. Sua história é um lembrete de que existe vida além da indústria, além dos centros, além das fórmulas. Existe vida onde há escolha consciente, onde há comunidade e onde há terra. E é ali, no solo fértil do continente africano, que ela está cultivando um novo tipo de sucesso, feito de autonomia, afeto e permanência.
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