Com base em amostras de DNA de 50,2 mil pessoas nas Américas e na África, coletadas de um banco de dados de milhões de amostras de empresas e projetos genômicos, pesquisadores da companhia 23andMe e da Universidade de Leicester (Reino Unido) traçaram um paralelo entre o perfil genético de descendentes de escravizados e os documentos históricos disponíveis sobre a escravidão.
Os resultados foram publicados no periódico American Journal of Human Genetics. Muitas das conclusões dos pesquisadores se aplicam à população afrodescendente do Brasil.
Notícias Relacionadas
A pesquisa diz que o “deslocamento forçado de mais de 12,5 milhões de homens, mulheres e crianças da África para as Américas entre 1515 e 1865 teve um significativo impacto social, cultural, de saúde e genético ao redor das Américas”.
No caso do Brasil, a maioria das conexões genéticas é com as populações do centro-oeste da África, particularmente a região do Congo. Em entrevista à BBC News os pesquisadores Steven Micheletti e Joanna Mountain, da empresa 23andMe disseram que isso “não surpreende, uma vez que os dados estimam que quase 2 milhões de africanos escravizados foram transportados diretamente (dali) para o Brasil”.
No entanto, há diferenças entre o Nordeste e o Sudeste do Brasil. “Afro-brasileiros do Nordeste têm ancestralidade tanto do Congo quanto da região da Nigéria. No Sudeste, afro-brasileiros têm ancestralidade sobretudo congolesa”, afirmou a pesquisadora Sandra Beleza.
Apesar de mais de 60% dos escravizados trazidos para as Américas terem sido homens, as análises genéticas apontam que uma grande parte dos genes de descendência africana vêm das mulheres.
Isso é ainda mais forte na América Latina: segundo a pesquisa, para cada homem, entre 4 e 17 mulheres contribuíram para o conjunto genético dos descendentes. Os motivos por trás disso são atribuídos à prática de estupro de mulheres africanas escravizadas, tanto por seus “senhores” quanto por outras formas de exploração sexual, também verificou-se uma “mortalidade mais alta de escravos homens na América Latina”.
Outro motivo de grande parte dos genes serem de mulheres é a prática conhecida como “branqueamento” racial, “que envolvia mulheres se casando com a intenção de produzir crianças de pele mais clara. Políticas nacionais de branqueamento foram implementadas em múltiplos países latino-americanos, financiando e subsidiando imigrantes europeus com a intenção de diluir a ancestralidade africana por meio da reprodução com europeus de pele clara”.
Estudos de historiadores e antropólogos afirmam que isso ocorreu também no Brasil.