“Toda criança que pede esmola no farol é negra? Infelizmente, a maioria sim. Por isso você fala que existe racismo, né?”. Este e outros diálogos difíceis de ter com as crianças compõem o primeiro livro infantil escrito pela mestra em educação Bianca Santana. “Diálogos feministas e antirracistas (e nada fáceis) com as crianças” é uma publicação do selo Camaleão, da Alta Books Editora, com as ilustrações de Tainan Rocha.
A autora trata de temas que geralmente são evitados pelas famílias – por conformismo ou medo de apresentar aos filhos uma realidade tão dura – e reforça ser possível dialogar sobre os espinhos que existem na sociedade sem macular qualquer inocência. Segurança, sistema prisional, política, saúde e outras pautas sociais como machismo e racismo são tratados de um jeito fácil de compreender sem perder a profundidade necessária.
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Bianca escreveu o livro a partir de conversas francas e generosas que teve com os próprios filhos para refletir, de forma sensível e sutil, sobre a realidade de muitas crianças negras brasileiras. A obra propõe gerar uma percepção aos pequenos leitores sem ferir o primeiro olhar do mundo.
“Diálogos feministas e antirracistas (e nada fáceis) com as crianças” pode ser encontrado no site da Amazon e no e-commerce da Alta Books Editora, por R$ 49,90.
Além de mestra em educação pela USP (Universidade de São Paulo), Bianca é doutora em ciência da informação e autora dos livros “Arruda e guiné: resistência negra no Brasil contemporâneo”, “Continuo preta: a vida de Sueli Carneiro” e “Quando me descobri negra”.
Confira trecho divulgado do novo livro:
“Hoje, na escola, a professora levou um texto e
perguntou o que tinha de errado nele. Só eu e a
Raquel percebemos que era um texto racista.
Por que racista?
A personagem era negra e se achava feia.
Queria ser branca para ser bonita.
E, quando vocês apontaram isso, o que a professora disse?
Ela gostou, mas um amigo ficou bravo.
Perguntou por que a gente tinha que falar de
racismo se a aula era de Língua Portuguesa.
E o que a professora disse?
Eu respondi antes dela. Disse que era óbvio
falar de racismo na aula de Língua Portuguesa
porque as pessoas são racistas em português” (página 9).