
Quem luta realmente por uma causa, veste a camisa da causa, faz discursos pela causa e, onde puder, ajuda a causa. Quando a pessoa usa a causa como palco para suas próprias firulas, todo o significado se perde. E não é pelos integrantes engajados com o coletivo, é pelo público “de fora”. Essa edição atual do BBB está sendo fonte de vários questionamentos. Os direcionados a mim, por exemplo vêm do tipo: “e aí, Saga, o que você tá achando do BBB21?”, doidos pra que eu fale mal de algum participante preto que tenha cometido algum deslize, erro ou conduta desagradável mesmo. Não que eu defenda, porque seria hipócrita da minha parte, mas já saquei o que eles querem me lançando essas intrigas. A militância seletiva de alguns participantes tem sido motivo pra cobrança ao coletivo. Coletivo esse, que muitas vezes, os próprios lacradores de plantão não se misturam, ou se colocam como líderes isolados de suas próprias regras, em sua própria quest por lacração, para seu próprio mérito, likes e gritinhos de “arrasô!”. Condutas contraditórias, em relação às supostas bandeiras que defendem, aliás, já causaram desconfortos, vindos de Lumena, Karol Conká e Nego Di. Sem contar as pessoas em volta que ficam em silêncio, tão coniventes quanto cúmplices, ok?
Enfim, essa edição está mostrando como não só somos passíveis de erros, como somos desunidos, certo? Certo?! Acho que nem tanto e nem tampouco. Vamos lembrar que é um programa de TV, onde tudo tem seu toque de “fábrica de ilusão”. E acho que o sonho da produção era mesmo “provar” que muito negro junto dá confusão. Não me entendam como paranoico, mas depois de uma linda lição de carinho e empatia que foi o BBB20 (saudades Babu Santana e Thelminha), acho que pensaram num contraponto pra realidade do reality. Tipo, há mesmo muitos lacradores-show com discursos contundentes e práticas questionáveis ou nulas. Por exemplo: Já vi lacrações de pretxs autônomxs, bem sucedidxs pra cima de pretxs pobres que ousaram pedir um barateamento ou facilitação de acesso a produtos e serviços produzidos por essa lacração. Foram rechaçados com textões porque quem não tem dinheiro, que não pode negociar, porque o esforço e o material são caros e a mão-de-obra precisa ser devidamente valorizada, porque é artifício da opressão, tempo da escravidão… Manos, era só dizer “não posso te ajudar, se não, meu negócio não vinga”, ou até, melhor, “vou encontrar alternativas pra isso chegar até você também”. Tá sacando onde quero chegar?
Notícias Relacionadas



A Globo, parece ter planejado mostrar negros problemáticos para, na frente, gerar a discussão: Quando eles são expostos, não são nada diferentes de quem criticam. E até podem ter razão, de acordo com o grupo escolhido. Mas se lembrarmos que o chefão do jornalismo platinado, por exemplo, Ali Kamel, escreveu o livro ‘Não Somos Racistas’, fica mais fácil de entender como a cúpula global parece pensar. Por isso, faço um mea culpa de meu texto anterior, afinal, um programa que vi nascer, que nunca teve negros de forma massiva por 20 anos, não poderia fazer esse movimento natural do nada, né? Só de abolição, tem mais de 130 e ainda precisa falar que racismo é crime. Tentei, comparei a diversidade negra da edição com um microcosmo do próprio Brasil, plural, com negros de origens, passados e reações diferentes. Mas, veja bem, pra estarem ali, os perfis foram pensados, analisados, entrevistados e selecionados pelas dinâmicas e possíveis polêmicas que poderiam causar. E isso meio que se confirma, com o passar das semanas. Senti que tava vendo a negada sendo levada de olhos vendados pra um abismo e, lá em baixo, jaz a cama de espinhos do cancelamento. E alguns andando cheios de razão.
Lembro que brancos não têm essa cobrança. Nesta edição mesmo tem branco falando besteira, mas não parece tão pesado quanto os pretos sendo “agressivos e hostis”, como se o estereótipo que fazem de nós (barraqueiros) fosse mais digno de apontar o dedo. Duas décadas sem cobrar dos brancos posicionamentos e quando aparecem alguns influencers pretos, eles têm a obrigação de dizer sempre o certo? Não que dê pra passar pano pra N comportamentos ali, mas não podemos cair também na arapuca de achar que uma quantidade maior de negros significaria um resumo do Brasil, muito menos que esse resumo seria perfeitamente exemplar. Na verdade, já me liguei que esse BBB está como as pesquisas de opinião em tempos de eleições: O contingente entrevistado sempre é tendencioso pra mascarar uma rejeição ou desprezar alguém bem cotado. Estão fazendo isso conosco aqui fora, através dos motivos que eles dão lá dentro. Fiquemos de olho. Talvez, a pior influência não seja os negros falando besteiras lá e sim, o que querem programar na cabeça dos negros aqui fora (que negro militante é problemático, agressivo, desunido, etc).
É como um homem chamar pra um debate uma mulher feminista e uma conservadora pra ficar mediando uma espécie de rinha ideológica pra provar que mulheres não se entendem, saca? Foi isso que fizeram com diversas etnias negras num evento chamado escravidão. A discórdia interna nossa também é vitória deles. Veja como muito pobre adora se ressentir por ser pobre e desprezar que acha que é mais pobre. Esse é o verdadeiro microcosmo mostrado ali. Não que devamos passar pano pros erros dos outros, nem se colocar em lugar de juiz, mas não perder o foco de que tem peixes maiores nadando por baixo dessa maré.
Notícias Recentes


