O artista e pesquisador Diogo Nógue enviou uma carta aberta ao Instituto Inhotim, em Minas Gerais, criticando a exibição das obras do fotógrafo Miguel Rio Branco na instituição. Segundo Nógue, as imagens da série Maciel (1979) e do filme Nada levarei quando morrer aqueles que me devem cobrarei no inferno (1985), que retratam comunidades negras do Pelourinho, em Salvador (BA), são apresentadas sem mediação crítica, reforçando estereótipos racistas.
Nas obras denunciadas, o fotógrafo registra cenas de vulnerabilidade, violência e prostituição no Pelourinho. Diogo Nógue argumenta que a montagem atual promove uma “leitura que animaliza e objetifica as pessoas negras”, além de não fazer qualquer contextualização histórica, nem mesmo sobre a participação das comunidades retratadas: “O museu opera como demonstração de poder na narrativa sobre territórios marginalizados”, escreveu o artista, citando análises acadêmicas que apontam para a “estetização da pobreza” diante de um público majoritariamente branco e elitista.
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Ele destaca que no vídeo, Miguel Rio Branco “filma de forma voyeristica [sic] brigas, pessoas alcoolizadas, e os moradores em atividades no bairro, a montagem junto a sonoplastia e música transforma as imagens no grotesco e em certas partes erotizando e zombando de mulheres nuas”. Em resposta, o Inhotim afirmou que “prevê ainda para este ano a atualização dos textos das galerias e obras ao ar livre, com o objetivo de propor uma abordagem curatorial atualizada e alinhada às discussões do nosso tempo”, escreveu a equipe de comunicação em resposta ao e-mail enviado por Diogo.
Além de críticas feitas ao modo como a população negra é retratada nas obras e apresentada pelo museu, Nógue sugeriu a interrupção da exibição ou inclusão de narrativas críticas de artistas negros, mediação histórica que relacione as imagens ao racismo estrutural e ao genocídio da população negra, a Bahia, local das fotos, é o estado com mais mortes de negros por violência policial, além da participação comunitária em curadorias futuras.
Ele ainda reforçou na carta enviada para grupos do movimento negro e veículos de comunicação: “É inadmissível exibir imagens de corpos negros sem o protagonismo das comunidades retratadas”.
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