Mundo Negro

Ao querer enfrentar o racismo, CBF dá aula do que não fazer em uma gestão de riscos sociais reputacionais

O presidente da FIFA Gianni Infantino e o presidente do CBF Ednaldo Rodrigues 📸 @jo.marconne

Texto: Viviane Elias Moreira

Em 24 de agosto de 2022, a Confederação Brasileira de Futebol realizou um seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol, como um marco de um novo momento contra o preconceito no esporte. “Fiz questão de realizar esse evento aqui na sede da CBF para mostrar ao mundo do futebol e aos preconceituosos que ainda frequentam os estádios do país e do mundo, que estamos lutando para bani-los. Sabemos que a realidade é dura. Mas estamos aqui para mudar”, disse o Presidente da CBF, o sr. Ednaldo Rodrigues. 

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Ações práticas adotadas pós seminário: 

 

A empresa CBF hoje é o case que você precisa para mostrar para sua empresa do potencial de impacto que o Diversity Washing é capaz de causar para o risco social reputacional da sua empresa. E complemento: as empresas brasileiras não estão preparadas para esta conversa. 

 

Primeiro porque utilizam o termo Diversity Washing para falar sobre concorrentes ou casos externos, mas não se preocupam em entender que fazem a mesma coisa em sua cultura organizacional, utilizando grupos de afinidades como arcabouços de ideias, que, muitas vezes são ignoradas ou sintetizadas em programas de mentorias internas com começo e sem fins e cursos rasos sobre a importância de se falar sobre diversidade e inclusão em universidades corporativas. Importante ressaltar que o termo Diversity Washing foi patenteado no Brasil pela Liliane Rocha, autora do livro Como ser um líder inclusivo e muitas vezes é utilizado sem o devido crédito (ação de apagamento que é uma micro agressão clara para uma mulher negra e é um exemplo de como o Diversity Washing atua).  


Segundo que as áreas de gestão de riscos das empresas, quando levam em conta a questão do risco social, as perguntas direcionadas por estes profissionais estão centralizadas em perda de mão de obra técnica e/ou ausência de funcionários ligados a funções estratégicas decorrentes de doenças, pandemias ou greves. 

 

Não há a pergunta de milhões: quais os riscos para sua empresa em não ter uma equipe com diversidade? E não há como ter esta pergunta: quantas áreas de gestão de riscos, compliance ou resiliência corporativa que você conhece que são diversas? A falta de olhar de pessoas diversas nos processos são o principal ponto para os riscos sociais se tangibilizar nas  empresas. No case CBF, que ninguém, realmente, não notou que não havia crianças negras em meio a no mínimo 22 crianças não negras que estavam por lá? 

 

E aí que o case CBF se mostra o puro suco do que se não fazer em uma gestão de riscos sociais reputacionais: eles poderiam ter o olhar mais apurado e coerente com a causa racial há muito tempo. E dados eles têm de monte: o Observatório da discriminação racial no futebol, lançou em 2021 o 8º relatório sobre discriminação racial no futebol. Sim, OITAVO.  Há dados compilados de casos de discriminação racial no futebol desde 2014, inclusive com indicadores interessantes sobre casos de xenofobia, machismo e LGBTfobia, comparados Brasil e mundo.

 

Lembra ou não lembra aquele censo de diversidade que sua empresa fez no passado e até hoje não divulgou os números ou está trabalhando internamente na base operacional para mostrar o aumento dos indicadores de profissionais negros? Há também a questão de se preocupar com o marketing com frases prontas como: é uma longa jornada para conseguirmos virar o jogo. Os CNPJs adoram esta frase. 

 

Pois, para que você entenda querido cnpj, a jornada que foi longa, vai precisar ser curta porque quem estará acompanhando o seu posicionamento são as pessoas impactadas nesta jornada longa que vão literalmente desistir de vocês. Quer o exemplo do case CBF? Notem a quantidade de pessoas que não assistem mais aos jogos da seleção brasileira e estão migrando para esportes como o basquete, onde houve uma ação imediata por parte dos jogadores com relação a questões raciais nos últimos anos. 

 

Se a sua empresa não começar a se preocupar com as consequências de ignorar as ações de correções imediatas que são necessárias para as questões de riscos sociais reputacionais ligados a diversidade, em especial a questão de diversidade racial em nosso país, mas cases como estes serão cada dia mais incorporados como rotina no imaginário da população brasileira. 

 

Nós, como negros, estamos há 131 anos tentando convencer as pessoas sobre as consequências que o sistema escravocrata deixou de sequelas em nossas estruturas pessoais e corporativas e não podemos permitir que os CNPJs criem evoluções destas micro agressões que sofríamos no passado, disfarçada de S de ESG, como esta que foi eternizada para sempre em cadeia nacional com a ausência de possibilidade de uma criança negra ser reconhecida ao lado dos seus ídolos do futebol. Quer saber as consequências? Leia a minha coluna do mês anterior que estão todas descritas por lá.  

 

Aqui vão meus sinceros agradecimentos e respeito ao Vini Junior (que é a esperança negra de luta antirracista para uma legião de crianças negras periféricas que querem um dia ser como ele), a equipe que “faz a mágica acontecer” do Observatório da discriminação racial no futebol (vocês são fera e uso a camiseta de vez sempre que consigo), ao eterno ídolo Aranha (que não desiste nunca e quem ainda não leu, leia  o Brasil Tumbeiro) e claro, ao mestre incansável, Paulo Cesar Vasconcellos (que foi um dos primeiros jornalistas negros que ouvi a falar sobre as questão racial de foram aberta e coerente neste país).

 

COMENTÁRIO COMPLEMENTAR: sim, mulheres pretas gostam de futebol e eu sou uma delas. Por favor, vamos dar nosso apoio a seleção feminina de futebol na próxima copa do mundo. Elas merecem o nosso respeito em dobro. 

 

Fonte: Acesso em 20/06/2023_14:00h

*https://ge.globo.com/futebol/noticia/2023/02/14/cbf-institui-punicoes-por-racismo-em-competicoes-brasileiras.ghtml

**https://www.terra.com.br/esportes/brasil/amistoso-brasil-x-guine-tera-uma-serie-de-manifestacoes-contra-o-racismo,22a7abe967961570bc82c10a6428123eqnfyyitz.html

***https://www.cbf.com.br/a-cbf/informes/index/ednaldo-rodrigues-abre-seminario-contra-o-racismo-estamos-aqui-para

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