O escritor Ale Santos acaba de anunciar o novo romance de ficção afrofuturista: Malta Indomável. O livro fará parte do mesmo universo que ‘O Último Ancestral‘, finalista da CCXP Awards. “Tô trabalhando bastante para crescer meu multiverso ancestral. Eu me inspiro muito em como a Marvel faz as coisas. Então imagina que O Último Ancestral seria a linha do tempo dos Vingadores e o universo de Malta Indomável vai ser Os Guardiões da Galáxia, o novo grupo chegando com uma nova proposta, uma nova identidade e narrativa, mas que ocasionalmente, no futuro, vão se cruzar”, disse Ale, em entrevista exclusiva ao MUNDO NEGRO.
Focado nos jovens periféricos, a obra trará uma aventura que aborda os desafios da adolescência, como insegurança, auto aceitação, construção de identidade e fé no contexto do afrofuturismo e colocando a experiência periférica negra no centro de uma ficção eletrizante com carros potentes e cybercapoeristas.
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A história será de um grupo de jovens desajustados e desacreditados que ganham poderes para competir contra cybercapoeristas na batalha de carros. É uma nova história, novos personagens, uma cidade futurística inspirada em mitos de nativos latino-americanos, que faz parte do mesmo universo do primeiro livro.
Leia a entrevista:
Como você define o que é um romance afrofuturista brasileiro?
Tem uma grande conversa sobre isso. O afrofuturismo nasce com bases imaginárias estadunidenses. Nasce com Colson Whitehead e N.K. Jemisin, são pessoas que estavam mergulhadas numa adição de, por exemplo, no imaginário das corridas espaciais, que são presentes nos Estados Unidos, a partir da década de 60, mas que não fazem parte do imaginário brasileiro. Então essa questão da corrida espacial é o que gerou obras que falam muito sobre a viagem de todos os planetas e que tentam solucionar os problemas da população negra saindo daqui da Terra.
Acho que o romance afrofuturista brasileiro tenta construir com o imaginário nacional, muito pautado com ideias que nasceu aqui mesmo. Tem realidades negras periféricas como o funk, o candomblé, o catolicismo negro, até mesmo como que todas essas questões sincretizam em obras. A gente tem a própria configuração do imaginário que precisa ser trazida à tona no afrofuturismo.
Eu não acho que dá para definir o que é um romance afrofuturista brasileiro, mas acho que tem várias pessoas definindo essa questão para suas próprias obras com o José Roberto, a Sandra Menezes, com o meu livro. São pessoas que estão colocando a realidade brasileira dentro desse movimento estético de ficção.
Quais as referências você teve para escrever o romance?
Eu já tenho um caminho que comecei para o meu universo. Então em Malta Indomável eu quero continuar nesse caminho, com as referências do samba, desde Clementina de Jesus, que foi uma das bases do meu universo, Adoniran Barbosa, Originais do Samba, Wilson das Neves. Mas quem lê minhas obras, tem sacado muito mais das minhas referências no trap. Meu livro O Último Ancestral é escrito com a linguagem do rap. Então toda essa galera que tem feito trap atualmente, desde o BK, Poze do Rodo. Tem personagens que são inspiradas na Ludmilla, na Negra Li. Tem a galera do Xamã, Emicida, Racionais Mc’s, Coruja BC1, Rashid.
Eu tô olhando para dentro de narrativas, para Shonda Rhimes e Jordan Peele, pra galera que tem feito ficção de narrativa negra com qualidade, principalmente mainstreaming.
Em Malta Indomável eu quero trazer, além de tudo isso que eu já coloquei no livro anterior, uma pegada da Congada Eu moro em Guaratinguetá, São Paulo, uma região que é Terra do Jongo. São expressões negras muito importantes aqui para o Brasil, até para entender a nossa configuração nacional de negritude. Eu quero trazer alguns elementos da Congada para construção da Corrida das Maltas, que é essa grande corrida e competição que esse grupo de jovens vai ser desafiado.
O que o público pode esperar com o novo livro?
As pessoas podem esperar da Malta Indomável um pouco do que elas já tiveram no Último Ancestral, que é uma narrativa acelerada e eletrizante. Meu estilo de escrita são capítulos curtos e muitos plot twist, reviravoltas, finais de capítulos com ganchos para continuações em outro capítulos. Eu gosto desse estilo de escrita, que prende o leitor, que faz ele ficar sempre puxando o ar, e pensando ‘o que vai acontecer agora com esse personagem?’. Essa é uma coisa que as pessoas podem esperar.
E podem esperar um pouco da configuração de povos ameríndios, latino-americano, trazer um pouco dessas culturas para dentro do universo, a partir de uma nova cidade. Em O Último Ancestral os personagens estão na cidade chamada Nagashi e em Malta, é em Sumema, com outra discussão, sobre opressão religiosa na cabeça dos adolescente. Uma discussão sobre punitivismo policial também. E a personagem principal, a Vic, ela vai sofrer muito por isso porque o pai dela é um sacerdote desse Deus punitivista.
O Último Ancestral é um sucesso e será adaptado em live-action. Quais as novidades sobre o novo projeto e o que você já pode adiantar para os leitores?
Sobre O Último Ancestral, ainda não posso falar muita coisa sobre a adaptação, tá rolando algumas conversas bem interessantes, está bem caminhada. Mas eu posso dizer que eu acabei de anunciar uma adaptação para RPG. Quem gosta vai poder jogar dentro do universo de O Último Ancestral também. Vai ser feito por uma produtora que produziu uma obra de RPG afrocentrada e independente.
Tô trabalhando bastante para crescer meu multiverso ancestral. Nesse multiverso eu me inspiro muito em como a Marvel faz as coisas. Então imagina que O Último Ancestral seria a linha do tempo dos Vingadores e universo a Malta Indomável vai ser Os Guardiões da Galáxia, o novo grupo chegando com uma nova proposta, uma nova identidade e narrativa, mas que ocasionalmente, no futuro, vão se cruzar.
Eu não quero que quem compre a Malta Indomável, se sinta preso à necessidade de ler O Último Ancestral. Claro que eu quero que isso aconteça naturalmente. Mas essa é uma história independente e que não precisa ter amarras com o primeiro livro, mesmo que alguns personagens apareçam neste novo.