Uma investigação inédita feita pela Agência Pública no Projeto Escravizadores, apontou que o Brasil tem autoridades políticas com antepassados que escravizaram pessoas no país. De 116 investigados, ao menos 33 estão nessa lista.
Entre as pessoas mapeadas, estão os ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.
Notícias Relacionadas
Dos 27 governadores, quase metade também tem essa relação familiar. São eles: Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Carlos Brandão Júnior (PSB-MA), Cláudio Castro (PL-RJ), Eduardo Riedel (PSDB-MS), Fátima Bezerra (PT-RN), Gladson Camelli (PP-AC), Helder Barbalho (MDB-PA), João Azevêdo (PSB-PB), Jorginho Mello (PL-SC), Rafael Fonteles (PT-PI), Raquel Lyra (PSDB-PE), Romeu Zema (Novo-MG) e Ronaldo Caiado (União-GO).
Já entre os senadores, 16 foram mapeados: Soraya Thronicke (Podemos-MS), Marcos do Val (Podemos-ES), Augusta Brito (PT-CE), Carlos Portinho (PL-RJ), Carlos Viana (Podemos-MG), Cid Ferreira Gomes (PSB-CE), Ciro Nogueira (PP-PI), Efraim Filho (União-PB), Fernando Dueire (MDB-PE), Jader Barbalho (MDB-PA), Jayme Campos (União-MT), Luis Carlos Heinze (PP-RS), Marcos Pontes (PL-SP), Rogério Marinho (PL-RN), Tereza Cristina (PP-MS) e Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PP).
No caso do Fernando Henrique Cardoso, seu tataravô e coronel José Manoel da Silva e Oliveira, nascido em meados de 1771, em Minas Gerais, foi uma importante figura a comandar a exploração de ouro nas antigas capitanias de Minas e Goiás. Os registros históricos apontam que ele teria usado pessoas escravizadas para tentar achar novos pontos de mineração, em uma dessas empreitadas. Elas morreram tragicamente no caminho devido a doenças.
“Não eram só os grandes proprietários de terra que tinham escravizados, mas [também] comerciantes, pessoas com pequenas propriedades e que muitas vezes tinham propriedades de plantio só para consumo próprio ou no máximo para venda local, mas não necessariamente para exportação e que tinham um, dois escravizados ali que faziam esse trabalho”, explica a historiadora e educadora social Joana Rezende.
“Muitas pessoas tinham escravizados que, por exemplo, alugavam para outras pessoas, para outras propriedades […] Haviam essas várias formas de, digamos assim, usar um escravizado, não só para plantação, não só nas lavouras”, disse.
A Agência Pública revela que definiu uma metodologia de investigação com os pesquisadores de genealogia do Núcleo de Estudos Paranaenses da Universidade Federal do Paraná (UFPR), coordenados pelo sociólogo e professor Ricardo Oliveira.
De acordo com o pesquisador, essas estruturas de poder e parentesco são um fenômeno genealógico, de modo que “ocorrem transmissões de heranças, de renda, patrimônio, escolaridade, e este temas são decisivos para entendermos o status quo”.
Por esta razão, boa parte das famílias ricas no século 21 são formadas pelos mesmos grupos familiares ricos do século anterior, originada por meio de casamentos e aliás no período imperial e colonial.
Foram investigados cerca de 500 documentos entre registros paroquiais e cartorários, jornais antigos em hemerotecas e arquivos públicos, e trabalhos acadêmicos de diversas universidades brasileiras. Além de terem sido documentados mais de 200 parentescos.
A Pública entrou em contato com os políticos e afirma que muitos desconheciam seus antepassados ou mantêm relação próxima com a sua linhagem. Eles puderam avaliar a genealogia e os documentos apresentados.
O projeto foi inspirado em iniciativas que foram realizadas nos Estados Unidos, pela Reuters, que apontou que mais de 110 membros da alta classe política americana são descendentes de escravizadores, e no Reino Unido, pelo Guardian, cujo conselho financiou uma pesquisa sobre as ligações do fundador do jornal e seus financiadores com o tráfico negreiro.