Acarajé é um tema que tá sempre em alta. Simboliza a preservação de uma essência africana que se tornou uma das marcas da diáspora africana no Brasil. Uma iguaria que nos lambuza e a gente ama!
Acarajé é comida sagrada. Comida de orixás! Comida que nutre o corpo e alma. Alimenta humanos, deusas e deuses também.
Existe uma lenda que envolve o acarajé:
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Iansã, deusa dos ventos e das tempestades, é a senhora dos raios e dona da alma dos mortos. A ela são oferecidos os bolinhos feitos de feijão fradinho e fritos no azeite de dendê, o acarajé. Segundo a lenda, a deusa dos ventos mulher de Xangô, foi a casa de Ifá buscar um preparado para o seu marido. Ifá entregou o encantamento e recomendou que quando Xangô comesse fosse falar para o povo. Iansã desconfiou e provou o alimento antes de entregá-lo ao marido. Nada aconteceu, quando chegou em casa entregou o preparado ao marido, lembrando o que Ifá dissera. Xango comeu e quando foi falar ao povo, começaram a sair labaredas de fogo da sua boca. Iansã ficou aflita e correu para ajudar o marido, gritando Kawô Kabiesilé. Foi então que as labaredas começaram a sair da sua boca também. Diante do ocorrido o povo começou a saudá-los: Obá anlá Óyó até babá Inà, ou seja, grande rei de Oyó, rei de pai do fogo. Essa história do Candomblé explica o nome do acarajé, que vem do iorubá akárà (bola de fogo) e jè (comer)
Comer bola de fogo pra ficar forte!
Manuel Querino nos ensinou a moer o fradinho com instrumento específico e muita técnica
Na hora de preparar o acarajé: “ A pedra de ralar, como geralmente lhe chamam, mede cinquenta centímetros de comprimento e vinte e três de largura, tendo cerca de dez centímetros de altura. A face plana em vez de lisa, é ligeiramente picada por canteiro, de modo a torna-la porosa ou crespa. Um rolo de forma cilíndrica da mesma pedra de cerca de trinta centímetros de comprimento apresenta toda a superfície também áspera. Este rolo impelido para a frente e para a trás, sobre a pedra, na atitude de quem mói, tritura facilmente o feijão…Estes apetrechos africanos são geralmente conhecidos na Bahia e muita gente os prefere às máquinas de moer cereais. ” (A Arte Culinária da Bahia. WMF Martins Fontes, 2011. Org. e notas: Raul Lody. Pg. 35). Neste contexto, está o ofício das baianas de tabuleiro com as vendas de acarajé. E nos terreiros de candomblé esta comida é um emblema de Oyá, orixá que ensinou as mulheres a fazerem o “acará” para comercializarem nos mercados, e com isto terem autonomia.
Falar de acarajé também é falar sobre a contribuição das mulheres pretas não só para nossa culinária afro-brasileira, onde tornou-se fundamental no processo de formação da cultura culinária afro-brasileira e sua consolidação como conhecemos hoje, tambem é de grande importância sua participação na esfera política, econômica e social, desde o período escravocrata até a contemporaneidade.
A força de nossa auto-organização feminina é ancestral e está presente em diversas sociedades africanas. E muito do que sabemos hoje quanto mulheres mercantes, aprendemos com mulheres que antigamente vendiam seus acarajés em suas gamelas.
As tradições ligadas ao comércio organizado pelas mulheres negras tem sido mantidas e/ou adaptadas como estratégias de sobrevivência e como forma de preservar os sabores tradicionais de matrizes africanas.
Então, quando você for comer acarajé, ouça as histórias da mulher que o prepara, uma das heranças de nosso povo é a oralidade. Valorize nossas histórias!
Aprecie sua indumentária: atenção à bata, a saia amarrada, ao pano da costa, às pulseiras e anéis, aos amuletos, fios de contas, ervas, de origem africana, uma forma de demonstrar relação com sagrado. Respeite nossa cultura!
E por fim, não deixe de conhece a historia de personalidades como: Luiza Mahin, Tânia Neri, Angélica Moreira e muitas outras mulheres negras que vendiam acarajés e revolucionaram e abriram espaço permitindo que sigamos seus legados. Não permita a continuidade do apagamento que nos invisibiliza!