No domingo (3), o Fantástico exibiu entrevista da Maju Coutinho com mulheres ligadas ao movimento do feminismo negro, que refletiram sobre o tapa do ator Will Smith contra o humorista Chris Rock durante o Oscar 2022 e o apagamento da Jada Pinkett Smith na ocasião.
Até o momento, ela fez apenas um post no Instagram com a frase, traduzida para o português: “São tempos de cura e estou aqui pra isso”.
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Há alguns anos, quando foi diagnosticada com alopecia, ela relembrou o momento que começou a perder o cabelo. “Foi assustador quando começou. Eu estava no chuveiro um dia e as minhas mãos estavam cheias de cabelo. Eu fiquei tipo ‘Eu tô ficando careca?'”.
Ela decidiu raspar a cabeça no ano passado. E poucos dias antes do Oscar, publicou um vídeo falando sobre quando o cabelo era cheio. “Tornar-me uma mulher negra e lidar com o meu cabelo em Hollywood, na época em que surgi tendo que ter o meu cabelo o mais parecido com de uma europeia foi muito desafiador porque eu gostava do meu cabelo selvagem e cacheado.”
Nas redes sociais, teve mulheres brancas questionando o empoderamento da Jada para se defender sozinha. Mas as mulheres negras levantaram como esse comportamento é diferente de uma para a outra.
“Essa pergunta remete a resposta que eu quero dar para essa situação. Porque se as mulheres negras nunca foram ajudadas, para pular poças de lama, nem subir em carruagens. Eu imagino também que a vida inteira, a trajetória de uma mulher negra é se defender sozinha. Porque a construção de gênero, a construção de feminilidade, impôs para as narrativas sobre masculino e feminino que a mulher branca, sim, precisaria se empoderar para não ser defendida como a Rapunzel, como a Chapeuzinho Vermelho, como a Cinderela. Mas para nós nunca existiu esse lugar de alguém estar apoiado, na nossa identidade para nos defender”, declara Carla Akotirene, mestre com doutorado em Estudos de Mulheres Gênero e Feminismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Gabi De Pretas, participou da reportagem e compartilhou os motivos de ter o cabelo alisado a partir dos 4 anos. “Qual criança negra não ouviu ‘cabelo duro, cabelo de bombril’? E por isso, uma solução que minha mãe encontrou para amenizar minha dor na época foi alisar meu cabelo”, relembra.
Hoje, com o cabelo raspado por opção, ela também diz sobre como isso também não é bem visto pela sociedade. “O cabelo tá muito ligado a ideia de feminilidade, e no caso da Jada, especificamente, quando ela se coloca com o cabelo raspado no Oscar, ela quer expressar o lugar de ‘eu estou aqui e eu quero estar aqui, na forma que eu estou hoje’.”
A outra entrevistada, cabelereira Renata Varella, relembra como foi a sua trajetória até aceitar o cabelo natural na vida adulta, “Todo mundo dá palpite sobre o seu cabelo desde pequena. A gente tem o hábito de transformar o nosso cabelo, usar algum tipo de química, pra entrar no padrão social esperado. Então a experiência é de não cabê-lo. É de não-indentidade.”
E complementa,”Ver a expressão da Jada dói muito porque a gente olha pra’quilo e revive todas as vezes que a gente já passou por isso. Ela foi humilhada, isso é muito desrespetoso”.
Yane Soares, também cabelereira, aprendeu com a Renata a também valorizar o cabelo, “Ninguém nunca me ensinou a cuidar do meu cabelo e quando eu aprendi, que eu tive aquela oportunidade, falei ‘cara, as pessoas tem que ter a mesma sensação que eu. saber finalizar, saber que eu o seu cabelo é bonito, que o seu cabelo não é bonito igual as pessoas falam.”