Mundo Negro

“A música cumpre quase um serviço social”, Levi Keniata lança seu primeiro disco exaltando a música preta local

(Foto: Divulgação)

Levi Keniata, 27, natural de São Paulo, teve contato com a música desde muito cedo, quando criança a aproximação se deu através de sua mãe, cantora na Igreja, ainda na infância, a fanfarra da escola lhe deu a oportunidade de explorar seus estudos musicais. Já na adolescência. para o jovem do ABC paulista, a paixão pelo Funk passou a falar mais alto, foi quando descobriu que, mesmo fora da igreja e do ambiente escolar, novas possibilidades criativas o aguardavam em outros espaços.

Com o amadurecimento pessoal e a mudança no estilo de vida, Keniata conheceu o Samba e o Candomblé, ambos possibilitaram seu primeiro contato com instrumentos de percussão como o atabaque e o agogô, um universo que transformou sua cosmologia de mundo e suas referências. Desde então, a música preta brasileira ganhou outra proporção na vida do produtor.

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E, durante um período sensível e em contexto de pandemia, Levi Keniata construiu de forma coletiva o disco CÉLULAS, que é um duplo panorama do presente, um registro da arte e da criatividade daqueles que não são vistos e ouvidos em diversas esferas da sociedade brasileira em tempos de pandemia, uma obra que materializa as expressões musicais e culturais da música preta local.

Todos os artistas e músicos convidados para o projeto encontraram na música o acalanto que precisavam. “Os convites seja aos cantores, músicos e técnicos foram feitos sentindo cada obra e ouvindo quem já soava ali antes mesmo de estar. Existe um outro lado do meu trabalho também, que é precisar de um entrosamento, contato orgânico, estar conectado por sentimentos, logo trabalhar a distância me quebra total, mas acredito que  o sentimento de querer se conectar com todos, foi combustão para fazer um retrato dessas nossas sensações. Sou muito grato de ter sido convidado para trabalhar em músicas anteriores com artistas como Obigo, Marabu e Nayra Lays, as primeiras pessoas que confiaram em mim, convidar eles para o meu primeiro álbum também é retribuir e afirmar a nossa confiança mútua na arte. Os outros convites foram feitos praticamente em alfaiataria para cada um e quando não, aparecia como: isso precisa estar no disco. Fico contente pois compartilhamos todos de uma atmosfera semelhante e acredito que conseguimos entregar o que realmente a música pedia

Foi durante a quarentena que o produtor percebeu a importância de construir um imaginário coletivo, contando e registrando as histórias, angústias, anseios e expectativas dos músicos independentes ligados à música brasileira feita da Zona Leste à Zona Sul de São Paulo. Levi Keniata explica como iniciou o processo de criação do disco: “Eu fiquei observando o movimento do mundo assim que adentramos numa situação de quarentena, percebi que pensar na possibilidade de conseguir passar por essa fase, minimamente sem grandes danos, precisaria ser de forma coletiva. Para isso, era necessário o mínimo de deslocamento e em alguns lugares do mundo, a impossibilidade concreta de não sair, vi alinhamentos de setores da saúde para buscar saídas e até mesmo governos para gerar alternativas econômicas. Fui pesquisar o significado semântico da palavra Célula e vi que era derivado do latin, Cela, pequeno espaço, em biologia, unidade básica e fundamental dos organismos, foi quando as coisas começaram a ganhar uma luz. Ser condicionado a ficar cada um em sua residência, diminuir a disseminação da Covid, colaborar com vizinhos com algo que necessitasse entre outras paradas, tudo isso já mostrava ser uma organização de todos, como algo no microscópio, para fazer sentido no macro, no mundo. Então mergulhei a fundo na Biologia e em tudo que se conecta-se artisticamente ao termo, assim fui conceituando o álbum e tornando o movimento das Células, literalmente no que já é na vida: ARTE”.

Perguntamos para Levi, qual seria o intuito ou objetivo do álbum que é o seu primeiro disco autoral onde o autor se inspirou na sonoridade do Samba-Rock mas sem negar sua raiz que é o Funk. O artista explica que a arte e a música são quase um serviço social:

A arte, a música, cumpre quase um serviço social que é ser trilha sonora da vida das pessoas. Ela afeta e atravessa toda alma, depois que passa sempre fica algo. Independente da situação em que se esteja, de romance, de ódio, de festa, a música irá atravessar. Resolvi continuar o que sempre foi feito por tantos e tantos, continuar fazendo a trilha sonora das situações em que vivemos, e no ano de 2020, CÉLULAS e só mais um sintoma de tudo o que aconteceu“.

Te convidados para ouvir Células, disponível em todas as plataformas digitais

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