Artigo especial com colaboração de Jefferson Rocha.
A durag, do inglês ‘do-rag’ (que em tradução livre quer dizer “feita de trapos”), é um acessório que teve a origem e uso feito por homens e mulheres afro-americanos escravizados no século XIX pra proteger suas cabeças do sol, insetos e outras coisas que pudessem atingi-los durante os trabalhos.
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Já nos anos de 1930, durante o Renascimento do Harlem (bairro localizado na ilha de Manhattan, em Nova Iorque) e a Grande Depressão, a durag começou a ser usada para preservar penteados. Lá pelo final dos anos 60, junto com o Movimento Black Power, tornou-se um acessório de moda e símbolo de resistência entre a comunidade afro-americana da época.
O uso da durag chegou a ser proibido e até criminalizado em algumas escolas dos EUA, com o argumento de que servia como “identificação de qual gangue a pessoa pertencia”. Nos anos 90, o acessório perdeu popularidade entre uma parcela da população negra, mas continuou em alta entre outros pretos, principalmente entre rappers e atletas. Posteriormente foi aderido por artistas de outros estilos musicais e artistas de diversas áreas, como 50Cent, Snoopy Dogg, Jay-Z, Solange Knowles, Rihanna, Willow e Jaden Smith, entre outros.
Atualmente a durag aparece em muitos momentos sendo usada por grandes artistas em revistas, eventos, desfiles de moda, shows e premiações. Rihanna usou o acessório em várias ocasiões, umas das mais famosas foi a premiação do Conselho de Designers de Moda da América em 2014.
Assim como o vestido, o durag usado na ocasião estava cravejado de cristais Swarovski. Em outro momento, ela fez uso do acessório no ensaio para a capa da Vogue Britânica, sendo a primeira mulher negra a usar o durag na capa da pomposa revista. Já Solange Knowles levou o acessório ao tapete vermelho do MET Gala em 2018, evento com o tema “Heavenly Bodies: Fashion and the Catholic Imagination” (que traduzindo seria algo como “Corpos Celestiais: Moda e a Imaginação Católica”), personalizado com uma auréola e uma espécie de cauda onde era possível ver escrito “MY GOD WEARS A DURAG” (“MEU DEUS VESTE UM DURAG”).
Aqui no Brasil, artistas como Mano Brown, Emicida, Rashid, Karol Conka, Mc Soffia, Mc Caverinha, entre outros reforçam o uso da durag como uma tendência e símbolo de resistência para pretas e pretos, popularizando ainda mais o acessório.
Foi a partir dessas referências que Angélica Freire, mãe, mulher preta e empreendedora, começou a pesquisar pelo item. Após a busca frustrada do seu namorado pelo acessório em Fortaleza, Angélica conseguiu encontrar uma durag a venda apenas no sudeste.
A empresária começou suas próprias pesquisas sobre tecidos, modelagens e estampas que pudessem fazer com que o acessório fique cada vez mais bonito e confortável. Após esse processo, Angélica deu início a confecção das durags e passou a vender as peças no perfil de sua marca, Ina Durag (@ina.durags).
Outra marca que faz a cabeça de quem curte o acessório é a carioca, King Of Durags (@kingofdurags) fundada por Nathan Santos. O empresário conta que sempre foi apaixonado pelo estilo dos anos 2000 e cresceu assistindo os videoclipes dos seus artistas preferidos onde eles sempre usavam durags: “Quando pequeno eu pegava uns lenços e amarrava na cabeça pra ficar igual as durags, então sempre tive esse sonho dentro de introduzir as durags no meu estilo. Em 2019 foi quando de fato comecei a usar e em 2020 produzi as minhas. Desde então a durag se tornou parte da minha vida, antes de escolher qualquer look vejo primeiro a durag”.
O uso da durag é muito mais do que um acessório para compor o estilo, mas tem também uma relação ancestral e afetiva, além de ajudar na autoestima de pessoas pretas, segundo Natan: “Nos tiraram tantas coisas, então ver pessoas pretas nas ruas, principalmente nas favelas, usando durag me emociona. Minha missão é propagar a cultura e elevar autoestimas de pessoas pretas através da durag. Ver isso se concretizando me enche de felicidade.”
Durante sua participação no reality De Férias com o Ex Brasil Celebs, o modelo e influenciador digital Matheus Pasquarelli se viu diante de uma situação desconfortável envolvendo a durag.
Matheus teve o acessório rasgado depois de uma discussão com o participante Rico Melquiades. O episódio gerou várias reações em favor do modelo nas redes sociais:
Mano, o cara rasgou a durag do outro do De Férias com o Ex. Maior símbolo de resistência. Que absurdo.
— Fernando Oliveira (@fefito) April 23, 2021
Sério q o participante Rico pegou o durag do pasquarelli e rasgou?!
Serase ele sabe a gravidade disso?!
O q isso significa?Cara já não gostei dele no primeiro episódio agora quero socar
— fada do lattes (@kleriene18) April 16, 2021
Gente o Rico rasgar a DURAG do Mateus foi uma das cenas mais difíceis que eu assisti na minha vida, Mano não importa se ele não quis ser racista, ele teve um ato racista, RASGOU UMA DURAG pra atingir o cara, sabe quanta representatividade uma DURAG trás consigo? #DeFeriasCelebs
— Vitu vulgo Vitão (@viturbarreto) April 23, 2021
“Naquele momento foi algo que me doeu muito e me estressou, porque é algo que me representa muito, além de ter um significado muito importante para mim. Cada peça significa um momento importante pra mim, além de todo o processo de construção do Matheus que eu sou hoje, de me encontrar. Então me feriu e nisso estourei”, conta o modelo.
Após o episódio, Pasquarelli aproveitou o ocorrido para criar um movimento em torno do uso do acessório em suas redes:
Para Matheus, a durag é uma das formas de trabalhar a autoestima das pessoas: “A durag além de ser uma forma de manutenção de penteados afros, trouxe uma representação muito importante na moda. É importante enaltecer e mostrar possibilidades do nosso estilo e trabalhar a autoestima de pessoas pretas.”
Esse mesmo ponto é levantado por Nathan, da King Of Durags: “A King não é apenas um negócio mas também um movimento cultural que visa principalmente, deixar pessoas pretas felizes, fazer com que elas enxerguem a própria beleza e outras possibilidades. Seja fazendo waves, seja usando tranças dreads entre outros.”
De item de proteção dos povos escravizados, sendo ressignificado pelo movimento Black Power, virando item de moda e resistência por grandes artistas negros como Rihanna e Solange e nas mãos de empreendedores como Angélica e Nathan, a durag é usada para reforçar a autoestima, força e beleza de pessoas por meio de elementos da cultura preta.
“A King tem um ano e durante essa trajetória recebemos muitos feedbacks de pessoas agradecendo pelo produto ter elevado autoestima. Creio que hoje a durag se tornou símbolo de afeto entre pretes. Então presentear alguém com durag é um ato de amor, de resgate da nossa cultura. Costumo dizer que amarrar a durag em outra pessoa preta é coroá-la, afinal nossos ancestrais eram reis e rainhas” afirma Nathan.
Você já usou ou usa o acessório? O que ele representa pra você?
Deixe nos comentários com tem sido sua experiência!