Há quase 30 anos, Eliana Bernadete Moreira Chaves Arp, uma chef baiana, vem transformando a cena gastronômica europeia com os sabores ancestrais de sua terra.
Morando na Holanda desde a década de 1990, ela encontrou na culinária um caminho para se reconectar com suas raízes e apresentar ao público europeu a riqueza da comida baiana, como o acarajé e a moqueca.
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“Quando eu estou num evento gastronômico, como os que participo dentro e fora da Holanda, vejo pessoas ficarem, às vezes, pacientemente esperando em filas quilométricas pra experimentar ou degustar um prato preparado por mim. Confesso que já me emocionei várias vezes”, relata a chef em entrevista ao Mundo Negro e Guia Black Chefs.
Entre idas e vindas para visitar família, agora Eliana retornou ao Brasil para aprender mais sobre a culinária ancestral. “Estou há 3 meses na Bahia. Ando querendo me aprofundar mais na gastronomia quilombola, nas tradições da gastronomia ribeirinha às margens do São Francisco. Tem tanta coisa que me fascina e me desperta enorme curiosidade”, conta.
Leia a entrevista completa abaixo:
Há quanto tempo você está atuando com o seu empreendimento na Europa e como foi o processo de introduzir a culinária baiana na Holanda e em outros países europeus?
Eu me casei no ano de 1988 com o holandês Richard Arp e mudamos pra Amsterdam
uns 6 anos depois exercendo fora os afazeres de esposa, mãe e dona de casa, ocupei alguns cargos na Holanda, mas a maternidade me fez realmente parar e me dedicar a família e foi aí que percebi que a gastronomia de minha terra era algo que além de me dar muito prazer, atraía, a princípio, a atenção de meu esposo, familiares e amigos, foi então que buscando entender qual seria a melhor maneira de canalizar toda essa energia e um certo talento de maneira positiva, e é claro, que me desse também uma estabilidade financeira em que eu não precisasse necessariamente voltar a trabalhar como empregada de uma empresa ou algum órgão. Eu queria empreender e para isso me preparei através dos cursos de apoio do governo holandês.
E aí começou a minha trajetória, a princípio com o Caipirinha Club porque eu entendi, através dos cursos em empreendedorismo, que teria que buscar um nome que tivesse ou causasse impacto. Como o famoso cocktail brasileiro na época era algo muito famoso e o que eu pretendia era levar uma mistura de elementos de minha cultura (culinária, música, dança, literatura, teatro, moda etc.), o nome Caipirinha Club me pareceu adequado e foi aprovado pelos mentores do curso.
Já são quase 30 anos empreendendo. Nesses meus 36 anos vivendo na Europa, indo e vindo visitar a família e observando as diversas vertentes da nossa culinária, – e não digo só da baiana, me atrai também a gastronomia de outros estados, Goiás e Minas Gerais, por exemplo. Ultimamente ando querendo me aprofundar mais na gastronomia quilombola, nas tradições da gastronomia ribeirinha às margens do São Francisco, inclusive de onde eu vim. Tem tanta coisa que me fascina e me desperta enorme curiosidade.
Além do sabor, a culinária baiana carrega muito de história e ancestralidade. Como você transmite isso para os seus clientes na Holanda? Eles são abertos a novos sabores?
Meu marido holandês, por exemplo, é louco pela culinária baiana, mas ele eu nem conto. Casado comigo todos estes anos e é suspeito (risos).
Mas quando eu estou num evento gastronômico, como os que participo dentro e fora da Holanda, vejo pessoas ficarem, às vezes, pacientemente esperando em filas quilométricas pra experimentar ou degustar um prato preparado por mim. Confesso que já me emocionei várias vezes.
Quais pratos são os mais pedidos pelos seus clientes europeus? Algum deles já se tornou favorito no cardápio?
Os pratos baianos mais disputados são: Acarajé e Abará completos (vatapá, caruru, saladinha e camarão seco); Moquecas (incluindo as veganas); Feijoada; Tropeiro. Os Salgadinhos brasileiros também são bem apreciados e o Pão de Queijo. As sobremesas mais degustadas são: Doce de leite; Pudim de leite condensado; Canjica.
Eu sempre apresento algo diferenciado, principalmente quando a questão é Comida Vegana e Vegetariana, dar um sabor bem baiano aos pratos deixa quem não come proteína animal bem feliz.
Existe algum prato ou ingrediente da gastronomia europeia que você incorporou ao seu estilo baiano de cozinhar?
Eu já dei minha colaboração. Muitos turistas que foram à Holanda nestes últimos 8 anos tiveram a surpresa de experimentar pratos típicos da culinária holandesa através de minhas mãos, e a surpresa era grande, viu?
Eu estive durante 8 anos, do dia que abriu até o dia que fechou a frente deste empreendimento, que não era meu, mas de uma amiga muito querida que me fez sentir tão necessária que não consegui deixa-lá na mão. E quando o negócio findou por motivos familiares, ela disse que manteria funcionando se eu quisesse assumir totalmente. A gastronomia holandesa é uma opção, mas minha devoção é a culinária de minha terra de origem, por isso agradeci e revirei a proposta.
O que o público pode esperar da sua gastronomia após essa temporada de imersão na Bahia?
Eu estou há 3 meses na Bahia, sorrateiramente observando o que a Bahia tem de inovador; são inúmeras iguarias que com certeza levarei para Europa. Me aguardem!