Os episódios recentes de violência policial contra pessoas negras são de embrulhar o estômago. Aliás, estudos da Rede de Observatórios da Segurança indicaram que, em 2023, quase 90% dos mortos pela polícia eram pessoas negras. Eu não sou ingênuo ao ponto de acreditar que essa violência estampada nos noticiários nunca me alcançará. Nenhuma pessoa negra tem segurança garantida, e encontrar maneiras de acabar com essa condição é a necessidade imediata.
Acho interessante a reflexão de Antônio Pompêo (1953-2016), ator e militante do movimento negro: “O racismo é uma serpente de muitas cabeças. Damos um golpe no seu corpo e ela se multiplica.” Logo, a eliminação do processo de genocídio exige ampla cadeia de ações envolvendo todos os aparelhos que organizam a sociedade. E claro, a maioria das instituições deve ser recriada sem qualquer rastro ideológico da sua atual estrutura de funcionamento. Contudo, a unidade negra é basilar para cobrar as mudanças.
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Na semana passada, li nas redes sociais discursos que impõem obstáculos na construção dessa unidade. Infelizmente, há pessoas utilizando desse expediente. Elas desconsideram as lutas do Movimento Negro, representado por organizações e instituições, intelectuais, políticos, militantes e ativistas, artistas e pessoas comuns.
Chamo a atenção para um dos resultados da pesquisa Datafolha, divulgado recentemente: 60% das pessoas que se autodeclaram pardas não se consideram negras. Esse dado acendeu um alerta. Sabemos que para as pessoas se assumirem pardas foi um longo processo de debate e fomento de políticas públicas; e, conforme o Estatuto da Igualdade Racial, a população negra é o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas. No caso desta última, segundo o IBGE (2022) “a pessoa que se declarar parda ou que se identifique com mistura de duas ou mais opções de cor ou raça, incluindo branca, preta, parda e indígena.”
O racismo até convenceu alguns pardos de que eles eram brancos, mas a ausência de privilégios atestava que não passava de uma mentira. Portanto, se permitirmos discursos que nos separam, a supremacia branca seguirá fortalecida e praticando o extermínio da população negra.
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