A Agenda 2030, um plano global adotado pelas Nações Unidas em setembro de 2015, é composta por 17 “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” (ODS) e 169 metas interconectadas, com o propósito de promover ações para as pessoas, o planeta e a prosperidade, visando erradicar a pobreza e garantir paz e prosperidade para todos até 2030.
Durante a 68ª Sessão da Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres (CSW), realizada entre os dias 13 e 15 de março em Nova York, a Agenda 2030 foi um tema relevante, especialmente durante um evento sede do Pacto Global, focado nas mulheres negras. Sob o tema ‘Incidência das Mulheres Negras na Agenda 2030: Diálogos Transnacionais’, ativistas e intelectuais discutiram questões como imigração, situação das mulheres indígenas, ciganas e negras, além de crises políticas e ambientais urgentes.
Notícias Relacionadas
Entre as presentes estavam Rachel Maia, Presidente do Conselho de Administração do Pacto Global da ONU – Rede Brasil (TBC); Verônica Vassalo, Gerente de Diversidade, Equidade e Inclusão do Pacto Global da ONU – Rede Brasil; Giselle dos Anjos, pesquisadora do CEERT e especialista em interseccionalidades; Benilda Brito, CEO da MUCUA e consultora da ONU Mulheres e do Pacto Global para fortalecimento das capacidades das empresas signatárias dos Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs) para enfrentar o Racismo Estrutural, na perspectiva intersetorial, Edilza Sotero, pesquisadora do CEERT e professora da Universidade Federal da Bahia; Keisha-Khan Y. Perry, professora na University of Pennsylvania, EUA e Paola Yañez Inofuentes, coordenadora geral da Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-Caribenhas e da diáspora.
Uma das falas mais focadas na agenda 2030 foi de Benilda Brito. Ela fez uma conexão entre os objetivos da agenda e a ancestralidade das religiões de matriz africana, trazendo para a mesa do Pacto Global a lembrança de Oxalá: “Ele é o orixá da paz. Aquele que não é homem nem mulher. Ele é equilibrado. Um dos nossos pontos aqui é a Agenda 2030. Dos cinco P’s que a Agenda 2030 defende, um deles é a bandeira de Oxalá: Pessoa, planeta, prosperidade, parceria e paz. Ela complementa: “Para a gente aqui é sobre os direitos, sobre as bandeiras que a agenda 2030 chama como indivisíveis, universais e integradas. Tem que ter uma harmonia dos cinco P’s. “
Sobre a situação do país, Benilda acredita que o Brasil está de mal a pior. Ela cita os “ODS” – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – e acredita que a iniciativa privada precisa ser mais participativa para a implementação da agenda 2030. “Eu tenho alguns ODS para gente tentar ver como todos eles interferem diretamente na vida de nosso povo preto brasileiro, principalmente de mulheres negras. Nós temos os dados, repertório e argumentos. O problema é que a gente vai ter que verdadeiramente encarar os racismos. Quem tem o poder da caneta e ainda não é um nosso, vai ter que ser mais corajoso.” Ela disse ainda que esses executivos precisam sair dos três C’s que seriam “conveniência, constrangimento e convencimento”.
Benilda lembrou de vários crimes recentes contra mulheres e crianças negras. “Só na Grande Rio, 650 crianças e adolescentes foram assassinados no Brasil. Nós estamos falando aqui que a gente está vivendo um processo genocídio. Como está a saúde mental dessa mãe, dessa mulher negra?”.
A intelectual também explica o conceito de “cuidadania”, que para ela, é uma grande carência nacional. “Significa acesso aos direitos humanos, significa acesso a políticas públicas, significa a possibilidade de mudança de desigualdade, significa romper com o silêncio histórico do epistemicídio que mantém essa desigualdade histórica e que a gente não sai do lugar. Nós estamos tentando muitas estratégias de sobrevivência. Eu fico pensando assim, como é que a gente consegue fazer uma discussão do Brasil descolada de gênero e raça?”.
Ela conclui trazendo uma contextualização histórica sobre ESG. “Ele nasce em 1950, na África do Sul, quando investidores internacionais romperam o financiamento de empresas que apoiavam o apartheid. Kofi Annan, na década de 90, vai trazer este conceito para ONU, mas isso já nasce na África do Sul. O corporativo tem que se movimentar, tem que tomar partido, não existe neutralidade na discussão racial”.