A afroconveniência no mês da paciência negra

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A afroconveniência no mês da paciência negra

Novembro é o mês da paciência negra. Nesse período do ano, o racismo potencializa, como que em resposta a toda atenção que o tema negritude recebe. O pior é que até quando parece feita pra lançar uma luz sobre o assunto, muita ação acaba reforçando a falta de sensibilidade a respeito. Explico: Sempre tem a reportagem, o programa de auditório, a seção no rádio e o canal do youtube que vai querer falar sobre exclusão, inclusão, racismo e representatividade. Mas, na maioria das vezes, isso só confirma que o tema não está sendo debatido no resto do ano. E muito menos que pessoas negras estejam sendo convidadas a falar de outros assuntos. Salvo em casos de racismo que viralizam ao longo do ano. Percebe?

Você não vê os gratiluz da democracia racial falando em representatividade ou cobrando marcas e emissoras por maior participação de negros e negras nas campanhas, desfiles e programas de TV em fevereiro(carnaval), por exemplo. Mas, em novembro, essa mesma galera diz que precisamos de 365 dias de consciência humana. Não estão nem aí, se você ou eu estamos bem física, financeira ou psicologicamente. Sacou? Nesse mês, o negro ganha um esplendor e só. Somos chamados pra falar de nossas vivências, projetos e projeções apenas por sermos negros. Somos a efeméride (data em que um assunto ganha visibilidade), mas precisamos ser o cotidiano. Na verdade, somos, mas falo em sentido de mídia.

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Ok, é importante ter uma data, é simbólico e potencializa o enfoque no tema. Mas, o que acontece, na real, é que fica banalizado. Guarda-se aquele momento exclusivo pra falar em como é importante, mas não se dedica a dar importância nos outros meses todos. Aí, começam situações que me deixam um pouco constrangido. A personalidade negra é chamada pra estampar ou dar entrevistas por ser negra. E só. Fica bem na foto pra quem chamou, mas não muda nada na sociedade. Preciso evocar, rapidamente, Morgan Freeman e sua fala famosa (a real, não a editada pra ele parecer um alienado). Morgan HomemLivre (Freeman, sacou? Rá!) disse não gostar da ideia de que a importância do negro na construção de seu país fosse reduzida a um mês (lá é fevereiro), justamente, porque a importância é o ano todo.

O que eu acho mesmo, é que quem só lembra de falar em negritude em novembro, apenas o faz pra pagar de consciente e ganhar like$. Faz lembrar novelas onde o elenco deveria ser majoritariamente negro, mas por não dar o mesmo espaço pra negros como dão pra brancos, acaba não tendo o número necessário. Lembra da novela que se passava na Bahia e quase não tinha preto? Menos quando o tema é escravidão, aí chove representatividade no elenco, né? (modo irônico ON). Enfim, fica bastante evidente que o colonialismo se reflete nessas atitudes, assim como em toda a sociedade. Uma escala de valor. Irônico, já que falar em representatividade por um dia, ou um mês, não chega nem perto do real sentido da palavra.

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